Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Uma entrevista semanal sobre temas relevantes para o Terceiro Setor
O que repudiamos:
Repudiamos a veiculação de imagens da chamada periferia pela televisão como sendo um lugar violento, onde só acontecem crimes, assassinatos, chacinas, tráfico de drogas, etc. Só noticiar esses episódios faz com que a população em geral tenha a impressão de que todos os moradores de lá sejam pessoas violentas ou com problemas com a justiça, aumentando o medo, a desconfiança e o preconceito contra eles.
Repudiamos a banalização da violência na televisão, pois ela impede que a população perceba quais são suas conseqüências. Sempre mais graves e profundas justamente para moradores da chamada periferia. Eles são as principais vítimas dela e têm dificuldade para contar com serviços públicos para protegê-los, como, por exemplo, policiamento adequado.
Repudiamos a violência freqüentemente mostrada como um espetáculo e sem as informações necessárias que permitam ao público analisar o contexto em que ela acontece e entender as suas causas.
Repudiamos que a violência seja usada como meio para a obtenção de audiência. E também o uso da audiência como principal critério para se escolher o que vai ou não ao ar. Supervalorizá-la acaba gerando a repetição de tipos de programas entre as várias emissoras e não a diversidade e a variedade.
Repudiamos quando a televisão retrata os moradores da chamada “periferia” como pessoas absolutamente carentes de recursos materiais, sociais e culturais e por isso incapazes de reconhecer e lutar pelos seus direitos, defender suas idéias e alcançar seus objetivos. Essa abordagem desperta o sentimento de piedade e de culpa, principalmente na população que tem mais recursos, e transmite a idéia de que o problema da desigualdade social se resolve por atitudes individuais e voluntárias.
Repudiamos a padronização das imagens transmitidas pela TV, tanto na sua programação quanto nas propagandas, de certos valores estéticos, culturais e sociais, que ajudam a criar, por exemplo, o padrão de que a pessoa magra é mais bonita e mais saudável que a gorda e reforça o preconceito racial quando dá mais espaço para artistas e apresentadores brancos do que para os negros e quando coloca artistas negros para representarem principalmente papéis de escravos, empregados domésticos, capangas, etc.
O que exigimos:
Exigimos que os pontos positivos como união e solidariedade, prática cotidiana na vida dos moradores dos bairros menos favorecidos, também sejam retratados pela TV na mesma proporção com que a violência é retratada. Existem em quase todos esses bairros organizações e associações que trabalham para cobrar e trazer melhorias para a comunidade e poucas matérias mostram essa realidade. Enquanto a violência é mostrada todos os dias, reportagens com esse caráter são eventuais. Se elas deixarem de ser eventuais, talvez os medos, desconfianças e preconceitos da população em geral contra os moradores desses bairros poderiam ser diminuídos, ou, pelo menos, não seriam reforçados. E talvez também favorecesse a percepção de que a violência atinge todos os segmentos sociais.
Exigimos que a violência jamais seja apresentada como um espetáculo. Não se trata de esconder ou omitir fatos violentos, mas de buscar sempre contextualizá-los, oferecendo o máximo de informações possível para que a população possa analisá-los e pensar sobre eles e não apenas se chocar e se indignar com eles. Por isso a audiência não deveria ser o principal critério para avaliar da programação. Para os moradores da chamada “periferia” a TV não é vista apenas como algo que serve para divertir e entreter, mas como uma forma de se informar, aprender e conhecer outras realidades.
Assim como a solidariedade e a união deveriam ser a contrapartida da violência retratada nesses bairros, as riquezas pessoais, a capacidade de mobilização e a consciência dos seus moradores deveriam ser mostradas junto com suas carências e problemas. Isso favoreceria o desenvolvimento da auto-estima desses moradores e reforçaria a idéia de que as trocas culturais entre os diversos segmentos sociais podem promover transformações na sociedade.
Afirmamos que a diversidade e a pluralidade da cultura do Brasil e do seu povo deveriam ganhar mais espaço. A partir do momento em que a TV começar a retratar de maneira igualitária todas as regiões das cidades, dos estados e do país com suas características próprias e específicas, essas diferenças poderão ser mais bem compreendidas e respeitadas por todos. A TV desejada deve ser um veículo a serviço da democratização da cultura.
O que propomos:
Considerando que:
· a televisão brasileira é regulada essencialmente pelos índices de audiência ;
· não há comunicação efetiva entre emissora e telespectador e
· não há órgãos públicos e/ou organizações da sociedade civil que regulem a programação da TV .
Propomos a criação de um Centro de Defesa do Telespectador, órgão da sociedade civil, que poderia ser formado por jornalistas, sindicatos e associações de profissionais de telecomunicação e a ONG TVer, com as funções de:
A) Estimular e negociar com os canais a criação e a divulgação (através de todos os meios de comunicação) de departamentos de atendimento as reclamações, críticas e propostas do telespectador e órgãos da sociedade civil sobre a programação da TV;
B) Estimular a instituição da figura do ombudsman em cada emissora;
C) Criação de fóruns que visem à criação de um código de defesa do telespectador;
D) Estimular e fornecer assessoria para a formação de canais comunitários populares;
E) Implantar e incentivar atividades que vise o aumento do nível de consciência crítica da população em relação ao que é transmitidos na televisão e a divulgação das leis que regulamentam as concessões e dispositivos que regulam a programação da TV.
Empreendedores Sociais do
Capão Redondo
Jardim Ângela
Jardim São Luís
Heliópolis e
Alunos do Colégio Equipe, participantes do Tver-Equipe
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Abaixo Assinado
Considerando que a televisão:
· retrata os bairros menos favorecidos da cidade, a chamada periferia, na maioria das vezes como lugares extremamente violentos, onde só acontecem assassinatos, crimes, chacinas e o tráfico de drogas;
· coloca a violência como um espetáculo que favorece os índices de audiência;
· mostra a população da periferia ora como pessoas violentas, criminosas e sem valores éticos, ora como pessoas carentes de recursos materiais, sociais e culturais e incapazes de reconhecer e lutar de forma autônoma pelos seus direitos;
· contribui para a padronização de valores culturais, estéticos, éticos e sociais.
Exigimos que a televisão:
· mostre mais os aspectos positivos da vida nesses bairros como a união e a solidariedade entre seus moradores;
· relate não só a violência, mais também forneça informações que façam o telespectador entender as causas e as conseqüências da violência;
· retrate mais as qualidades, a capacidade de organização e mobilização dos moradores desses bairros;
· reforce a diversidade cultural do país.
Para isso propomos:
· a criação de um centro de defesa do telespectador;
· a ampliação do espaço na programação para produções nacionais e que retratem a diversidade cultural
· a criação do papel do ombudsman das emissoras de TVs abertas.
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