Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Barracos que ficam inundados quando a água do rio sobe, falta de escolas e posto de saúde, prostituição infantil, miséria, desemprego e tráfico de drogas. A situação da comunidade de Sovaco da Cobra, localizada em Barra de Jangada, no município de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, permaneceria igual às de outras localidades de baixa renda ribeirinhas não fosse a mobilização popular que a associação comunitária do local, o Centro de Cidadania de Barra de Jangada, tem procurado desenvolver. Apesar da grande vontade dos líderes, ainda falta apoio para as condições de vida melhorarem por lá.
Sovaco da Cobra nunca foi uma área rica, mas o crescimento populacional agravou os problemas já existentes e ainda criou novos. Apesar de agora haver luz, água e uma escola – que não existiam 20 anos atrás - na localidade, nem todas as 4.500 famílias moradoras têm acesso a estes serviços. O aumento do número de pessoas e da pobreza fizeram surgir novas dificuldades como a prostituição infantil e o tráfico de entorpecentes. É o que conta José Urbano da Silva, presidente do Centro e morador do local há 19 anos. Urbano é uma das poucas pessoas com renda mais elevada de Barra de Jangada – é dono de um ferro-velho - e por isso sempre ofereceu ajuda a quem procurou. Sua ação, entretanto, se limitava ao assistencialismo até Edilene Barbosa da Silva, 33 anos de vida e quatro de comunidade, começar a participar das atividades em 2001.
Ambos ficaram cansados de esperar ações da Prefeitura de Jaboatão e do governo estadual de Pernambuco e decidiram botar a mão na massa. “Não agüentava ver minha filha pisar na lama quando saía de casa”, diz Edilene. A “massa” eram os moradores de Sovaco da Cobra, desmobilizados, sem perspectivas de melhora – sentimento agravado quando uma escola e o posto de saúde da comunidade foram fechados no ano passado -, mas com vontade de aprender. A primeira atividade planejada após a dupla assumir a presidência do Centro em 2001 foi uma série de seminários e palestras sobre como utilizar os recursos do local e a importância do fortalecimento da associação, atividades que seriam realizadas em dezembro de 2002.
Problemas
Tudo estava acertado com a Prefeitura e os palestrantes, mas o evento não correu como esperado. Alguns convidados faltaram, não houve iluminação - prometida pelo governo municipal - e o sistema de som só funcionou porque foram cobrados ingressos. Ainda assim o espaço reservado lotou durante as seis horas programadas. A procura pelas reuniões semanais da associação agora é maior, mas está aquém do esperado. “Não são tantas pessoas quanto eu gostaria, mas as que vêm participam”, diz Edilene.
Os encontros reúnem pelo menos 25 moradores, porém muitos são atraídos por incentivos oferecidos por Urbano. Há brindes para quem comparecer. Apesar disso, os participantes cobram cursos e palestras – a maioria interessada em informática para seus filhos. Para si, pedem aulas mais tradicionais, como corte e costura. Das conversas surgem as criativas idéias da associação.
Criatividade e otimismo
Pouco antes de falarem à reportagem, Edilene e Urbano pensaram em fazer uma mini-fábrica de reciclagem de plástico no terreno do ferro velho. A associação ficaria responsável por sua administração e empregaria moradores da comunidade. Falta, entretanto, uma máquina para fabricar copos plásticos. Inspirado no projeto, Urbano sugere uma linha de microcrédito para resolver esse tipo de problema. “A mudança por aqui seria rápida. Em 60 dias o desemprego estaria bem menor”, vislumbra.
O otimismo não pára aí. O Centro de Cidadania enviou projeto para o Programa Capacitação Solidária e aguarda ansiosamente a resposta. Cartazes já foram colados nos principais pontos de Sovaco da Cobra para despertar o interesse dos jovens, pois o programa financia cursos de capacitação. “Precisamos incentivar a juventude, que está muito acostumada ao ócio”, diz Edilene. A previsão dela é que 30 jovens sejam beneficiados com aulas e acompanhamento psicológico e educativo. A metade deve conseguir ser empregada.
Outras iniciativas são desejadas. Já há espaço disponível para montar uma escolinha de futebol e de capoeira. Em todos eles, haverá obrigação de estar matriculado em alguma escola da região.
Um dos cursos começará em breve. A associação foi uma das agraciadas com um computador pelo concurso Ação Digital Nordeste, promovido pela RITS, e dará aulas de informática a interessados. O site da instituição está sendo elaborado e logo estará no ar divulgando informações. Entretanto, mais ajuda é necessária, pois faltam recursos. “Qualquer tipo de colaboração, seja financeira ou ações voluntárias, serve”, falam em coro os dois líderes.
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