Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
A constituição oficial como ONG, em dezembro de 2002, é um marco para um grupo que batalha há mais de 15 anos num projeto que promove a dança de rua em comunidades de baixa renda do Rio - a Gangue de Break Consciente da Rocinha (GBCR). É uma vitória importante para um projeto que pretende crescer e conquistar novos apoios. Para divulgar o seu trabalho e a cultura hip hop, a GBCR realiza, neste fim de semana, o festival "Batendo de Frente - B-boy Festival", no Rio de Janeiro. Só em 1995 os membros da GBCR se instalaram na Rocinha e criaram o nome que usam até hoje. Por isso, o evento também vai servir para comemorar os oito anos do grupo na favela. A Gangue também atuam em Duque de Caxias, São João de Meriti e Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, e Juiz de Fora, em Minas Gerais, oferecendo oficinas gratuitas de dança, música e grafite para crianças e adolescentes. O projeto conta com o apoio de instituições governamentais e da iniciativa privada, além das próprias comunidades.
Márvio Guilhermo Stocco, o Jagal, b-boy (dançarino de break) e secretário da GBCR, espera que o festival ajude a fazer com que a cultura do hip hop seja reconhecida e valorizada pela sociedade em geral. Muitos jovens da periferia encontram no hip hop uma oportunidade de conquistarem o respeito da sociedade, mas Jagal ressalta que o fator de transformador social é intrínseco à cultura do hip hop, assim como é a toda arte. "O nosso projeto não quer pregar falsa moral. Quer apenas mostrar aos jovens uma realidade diferente das drogas e da violência. Só o fato de as crianças poderem passar parte do seu tempo no projeto e estarem envolvidas com essa cultura já contribui para uma transformação", completa.
O festival será dividido em dois dias - o dia 1º de fevereiro, com atividades na Rocinha, e o dia 2, na Cobal do Humaitá - e reunirá cerca de 70 DJs, MCs, grafiteiros e b-boys do Rio de Janeiro e de outros estados. O evento tem o apoio financeiro da Associação de Moradores da Rocinha e da Cavídeo, que é também responsável pela divulgação.
Esta é a segunda edição do festival "Batendo de Frente", que foi idealizado por Jagal. A primeira foi realizada em 2002, para promover a primeira eliminatória do Campeonato Individual de Break no Rio de Janeiro, que foi uma acirrada disputa nacional entre grupos de dança. Jagal explica que, nas competições que aconteciam no auge do break, os grupos se apresentavam um de frente para o outro. Daí o nome "Batendo de Frente". Na época, a Cavídeo foi convidada para filmar as batalhas show entre os b-boys e produzir uma fita, cujo lançamento também será celebrado nesta próxima edição. Ao contrário da maioria das festas de hip hop, que se limitam à música, o próximo "Batendo de Frente" apresentará todos os quatro elementos de expressão artística dessa arte de rua: o break (a dança, executada pelos b-boys), o MC (o mestre de cerimônia, que canta os versos das músicas), DJ (o disc-jóquei, que cuida da parte instrumental da música) e o grafite (o desenho).
O primeiro dia do evento será na Quadra da Rua 1, na Rocinha, a partir das 11h, e visa divulgar a cultura hip hop e o trabalho da GBCR na comunidade. Lá serão oferecidos workshops gratuitos direcionados a b-boys, MCs, DJs, grafiteiros, produtores culturais que trabalham na área organizando eventos, e entidades que promovem aulas em comunidades. Os workshops visam afirmar os conceitos básicos da cultura hip hop, transmitir a história por trás de cada elemento e a sua importância. Em seguida, uma mesa redonda colocará em discussão os temas "Hip hop e o poder público" e "Hip hop e suas parcerias", que discutirá a necessidade de melhorar a comunicação entre as entidades que realizam projetos com oficinas de hip hop e os artistas dessa cultura. "Em muitos projetos, as oficinas de hip hop são só fachada. A qualidade do trabalho é ruim, os cursos são oferecidos apenas uma vez por semana, não oferecem uma profissionalização de verdade e são incapazes de inserir o aluno na cultura hip hop", diz Jagal.
A intenção é que o debate produza propostas para que essas entidades possam interagir mais com a cultura hip hop e que, assim, os projetos possam gerar resultados positivos de fato. Para os debates foram convidados representantes de ONGs e outras instituições que trabalham o hip hop nas comunidades, representantes das secretarias de cultura municipais e estaduais, produtores culturais e artistas e empresários do meio. Durante o dia, haverá ainda apresentação de grafite com artistas da Rocinha, exposição de fotos dos oitos anos do grupo, shows de alunos da GBCR e de vários grupos de rap do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais.
No dia 2, domingo, a festa desce a Rocinha em direção à Cobal do Humaitá, para fazer com que a cultura do hip hop seja reconhecida por um público mais amplo. Lá a festa fica por conta da Cavídeo em parceria com Elza Cohen, que organiza a Zoeira, festa pioneira de hip hop da cidade. A Cavídeo lançará a sua prateleira de fitas sobre hip hop, que poderão ser alugadas gratuitamente por ONGs, instituições e centros comunitários. O filme "Batendo de Frente" - que retrata o Campeonato Individual de Break - e outras fitas serão exibidas a partir das 11h. A festa Zoeira começará às 21h.
Serviço
Mais informações sobre a GBCR e o "Batendo de Frente", pelo correio eletrônico gbcrhiphop@yahoo.com.br ou pelo telefone (21) 9262-7233, com Jagal.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer