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Cidadania no salão

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor








Auto-estima e geração de renda são os principais focos de atuação do Projeto Tesourinha, que oferece cursos profissionalizantes gratuitos de manicure e cabeleireiro para cerca de 500 pessoas de comunidades de baixa renda. São atendidos jovens a partir de 16 anos, em unidades no Ibirapuera e Jardim Arpoador, na cidade de São Paulo.


O projeto surgiu em 1992, quando o seu fundador, o cabeleireiro Ivan Stringhi, passou a fazer trabalho voluntário cortando cabelos em comunidades pobres de São Paulo. Ele percebeu que a auto-estima das pessoas que ele atendia era muito baixa, e que a prestação de serviços gratuitos de beleza não era suficiente para ajudá-las. Viu que para melhorarem o conceito que faziam de si mesmas, elas tinham que ter, no mínimo, uma condição socioeconômica plausível. Assim, contando com o interesse dessas pessoas, Ivan formou um grupo de alunos, batalhou em busca de um espaço e de parcerias, e começou então a dar as primeiras aulas.


Daniela Paz, coordenadora geral do Projeto Tesourinha, diz que a procura pelos cursos é grande, mas não há vagas suficientes para todos os interessados. Por isso, um grupo de seleção realiza uma triagem, que prioriza as pessoas de baixa renda e leva em consideração o seu interesse em trabalhar na área.

Investindo em auto-estima

Além das aulas práticas e teóricas, os alunos aprendem a trabalhar em equipe e participam de capacitação para noções de higiene, apresentação pessoal, atendimento pessoal e cidadania, que inclui palestras sobre direitos e deveres, atualidades, orientação sexual, familiar e sobre drogas, entre outros temas. Estas aulas formam o módulo de cidadania, cuja intenção é fortalecer a auto-confiança dos alunos que, em sua maioria, não completou o segundo grau e não possui experiência profissional. "Como o nosso trabalho é focado em beleza e profissionalização nesta área, incentivamos não apenas a geração de renda, mas também a preocupação dos alunos com a sua própria aparência, postura e bem-estar. Quando se sentem melhores consigo mesmos, se consideram mais capazes de enfrentar o mercado de trabalho. É um aprendizado que eles carregam tanto para a vida profissional quanto para a pessoal", afirma a coordenadora. Os alunos do projeto realizam ainda mutirões em instituições – uma oportunidade de atenderem tipos de públicos diversos e de porem em prática o que aprendem nos cursos.

"Tesourinhas" no mercado

Os contatos que Ivan fez com outros profissionais e redes de salões de beleza, durante esses anos de atividades, deram origem a parcerias que concluem os principais objetivos do projeto – a inserção no mercado de trabalho. Segundo a coordenadora, cerca de 53% dos alunos formados – os "tesourinhas" – são empregados nos salões (por indicação da entidade), trabalham por conta própria ou permanecem no projeto para trabalhar no salão de beleza da instituição. Muitos participantes são de outros estados e, ao terminarem o curso, voltam para as suas cidades prontos para trabalhar.


Ivan ressalta que o aumento da auto-estima dos participantes influencia também as suas famílias e contribui para o resgate destas. "O jovem que consegue trabalho é um marco de esperança para que os outros membros da família busquem melhorar a sua qualidade de vida", diz.


Mantido com a ajuda de voluntários e o apoio financeiro da iniciativa privada (principalmente empresas do setor de beleza) e de pessoas físicas, através de doações, o Projeto Tesourinha deverá ser expandido este ano para outras cidades como Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Isto se consolidará através de parcerias com empresas e cabeleireiros interessados em realizar trabalho voluntário e implantar o projeto em sua cidade.


Segundo Ivan, o sucesso do projeto se deve, principalmente, à sua qualidade humana e técnica. "Nossos monitores exigem o máximo dos alunos, que são muito dedicados. Como resultado, sempre recebemos agradecimentos pela oportunidade e pelo preparo que tiveram", afirma.


 


Mariana Loiola

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