Autor original: Julio Cesar Brazil
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
![]() | ![]() |
![]() |
Trabalho infantil, evasão escolar, desnutrição e gravidez na adolescência são alguns problemas que - se não desapareceram completamente - foram radicalmente diminuídos na realidade dos moradores de Canoas, área rural de Teresópolis, na região serrana do estado do Rio de Janeiro. O agente destas mudanças é o Espaço Compartilharte, surgido há 11 anos e presidido pela jornalista Maria de Lourdes Castro Oliveira. A iniciativa promove o desenvolvimento comunitário através da atenção integral a crianças, adolescentes e familiares, com ações nas áreas de educação, cultura, capacitação, saúde, meio ambiente e geração de renda. Em 2002, a instituição atendeu 140 crianças e adolescentes, com idades entre 2 e 17 anos e beneficiou indiretamente as 1.300 pessoas que vivem na comunidade. Porém, todo o trabalho corre o risco de parar, devido a dificuldades financeiras enfrentadas pela entidade desde a perda de um apoio anual de R$ 240 mil.
O Espaço Compartilharte tem uma proposta pedagógica fundamentada em 11 princípios: ética, verdade, união, amor ao meio ambiente, cidadania, paz, conhecimento, solidariedade, esperança, amor e alegria. São estes princípios que compõem uma metodologia denominada pelos membros do Espaço de "Pedagogia do Amor", sistematizada em três linhas de ação (Didática Amorosa, Transmutação e Simplicidade e Praticidade). Segundo Maria de Lourdes, o amor é o principal elemento transformador da vida e este pensamento está incutido nas pessoas que trabalham na instituição. "Somente a disponibilidade total da nossa equipe com muito amor, emoção e conhecimento podem mudar a situação. É uma troca permanente para transformar o cidadão em uma pessoa feliz", diz.
Na prática, este intercâmbio é concretizado através do Projeto Veredas, que tem como base a "Pedagogia do Amor". Ele é dividido em quatro sub-áreas interligadas e intercomplementares: Educação e Cultura, Saúde e Meio Ambiente, Geração de Renda e Planejamento e Capacitação. A Vereda da Educação e Cultura realiza uma ação complementar à escola formal de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. Já os meninos e meninas de 2 a 7 anos recebem um atendimento em tempo integral, das 8h às 18h, pois não existem escolas para esta faixa etária na região de Canoas.
São realizadas oficinas diversas (leitura, papel reciclado, papel machê, utilitários e decorativos de bambu, teatro, música, costura e informática), além do uso de uma biblioteca móvel e de um espaço para os meninos e meninas participarem de atividades corporais e praticarem esportes. Para as crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, ainda auxilia no transporte, buscando estes alunos e alunas nas escolas da região e os levando para o Espaço Compartilharte.
![]() | ![]() |
![]() |
A Vereda da Saúde e Meio Ambiente consiste em uma série de ações e serviços, entre as quais se destacam a criação de um posto de saúde, a produção de remédios fitoterápicos e a preservação da biodiversidade da região, inserida no ecossistema da Mata Atlântica. O posto de saúde garante o atendimento médico (ginecologia, pediatria e clínica geral) e odontológico aos moradores da região. A equipe é composta por três médicos e um dentista, que realizam esta atividade de forma voluntária. "Estes profissionais são pessoas que conheceram e se sensibilizaram com o nosso trabalho. Eles atuam uma vez por semana no posto de saúde e conquistaram o carinho e o respeito de toda a comunidade", diz Maria de Lourdes.
A produção de remédios fitoterápicos é concretizada com a participação de oito fitoterapeutas, que recolhem todas as ervas plantadas pelas crianças e adolescentes, além de um trabalhador rural do Espaço Compartilharte. Os profissionais levam estas plantas para serem manipuladas em Teresópolis e os remédios são distribuídos gratuitamente aos moradores de baixa renda de Canoas. Na questão da conservação da biodiversidade, o Espaço Compartilharte organiza a cada 90 dias campanhas de limpeza da região, que fica ao lado de uma Área de Preservação Ambiental (APA), criada pelo estado do Rio e denominada Jacarandá. "Convocamos as nossas crianças, adolescentes, funcionários, pais e igrejas para limparmos as estradas e rios do lugar em um grande mutirão", conta a presidente da instituição.
Um outro desdobramento do Projeto Veredas é a Vereda de Geração de Renda, que visa ampliar as oficinas profissionalizantes existentes e capacitar mão-de-obra. As oficinas de produção de bambu, reciclagem de papel e de papel marchê, corte e costura e tapecaria estão empregando dois jovens, quatro mulheres (três mães e uma avó de crianças atendidas pela entidade), além de garantir uma bolsa-aprendizagem para dois adolescentes. O Espaço Compartilharte também realiza ações de capacitação com a sua equipe de voluntários e não-voluntários com objetivo de desenvolver instrumentos de registro e avaliação, que façam um controle de todas as atividades propostas pelas Veredas. Na prática, isto se traduz na organização de grupos de estudos, que monitoram a atuação dos educadores em cada Vereda e visitam as famílias atendidas, entre outras ações.
Dificuldades com fim de apoio financeiro
A perda, em fevereiro, de um apoio anual de R$ 240 mil determinou que a instituição tomasse uma série de medidas de contenção de gastos, que já estão prejudicando - e podem fazer ainda mais - todo o trabalho realizado na região desde 1991. Uma das medidas foi a decisão de que as crianças acima de 7 anos passarão a freqüentar o Espaço somente dois dias por semana, até que a situação seja revertida. Isso acarretará em uma redução de 30 horas para 12 horas semanais, criando um quadro negativo nos aspectos nutricional e de aprendizado, respectivamente. A presidente do Espaço Compartilharte lembra que existem crianças que se alimentam somente com as três refeições oferecidas diariamente pela entidade.
Uma preocupação grande de Maria de Lourdes é o retorno da evasão escolar, pois a organização não poderá atender, por exemplo, 12 crianças de 2 a 3 anos, que preencheriam a vaga de crianças alfabetizadas em 2002 e matriculadas na primeira série do ensino fundamental. Porém o maior temor de Maria de Lourdes é que as crianças e adolescentes assistidos pela instituição voltem a ser obrigados a trabalhar na agricultura para ajudar no sustento de suas famílias. Ela ressalta que o Espaço Compartilhante teve papel determinante na extinção deste problema, desde que começou as atividades, em 1991 – quando a 80% das crianças em idade escolar trabalhavam. Hoje esse percentual é zero.
Outra decisão tomada pela direção do Espaço Compartilharte foi o fechamento do posto de saúde à comunidade da região. A partir deste mês somente as crianças atendidas pela entidade receberão os cuidados dos profissionais de medicina e odontologia que atuam no lugar. Para Maria de Lourdes isso é triste, pois os moradores de Canoas terão muita dificuldade em atenderem a uma consulta médica pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Teresópolis. "O primeiro ônibus de Canoas para o centro da cidade é em um horário que não permite que eles consigam uma senha de atendimento pelo SUS. A região está 1h30 de ônibus de Teresópolis", lamenta. O veto para a utilização do posto de saúde poderá trazer de volta doenças que atualmente não são diagnosticadas entres os habitantes da região. "Há 10 anos eram registradas sete internações de moradores com pneumonia por ano e desde 1998 não surgem casos da enfermidade no lugar", lembra.
Enquanto espera a concretização de um novo apoio financeiro, a presidente lembra que a instituição está aguardando a liberação de recursos conseguidos junto a dois órgãos do governo federal. Para tentar reverter este quadro ruim, a presidente do Espaço Compartilharte diz que também está tentando incrementar o "Clube de Sócios" e atrair novas fontes de receita. O clube é dividido em "Sócio-contribuinte" e "Sócio-padrinho". Na primeira opção, a entidade emite um boleto bancário de no mínino R$ 20 para as pessoas poderem contribuir. A segunda alternativa é o apadrinhamento de uma criança assistida pelo Espaço Compartilharte. Esta opção tem um custo mensal de R$ 150 e atualmente a organização tem 49 sócios-padrinhos. O ideal seria conseguir mais 91 pessoas nesta condição. Maria de Lourdes diz que, atingindo este objetivo, conseguirá manter as crianças (acima de 7 anos) a semana inteira na instituição.
O Espaço Compartilharte também pode receber doações através do site Filantropia.org (link ao lado), pois a entidade faz parte do Guia Filantropia 400, que reúne as principais organizações filantrópicas do país. Outro método de doação é por depósito bancário. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (21) 2644-6177 ou (21) 2644-6675, além do endereço eletrônico presidencia@espacocompartilharte.org.br.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer