Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Não é só de descanso que vivem os aposentados e as pessoas na terceira idade. Para incluir os idosos no processo produtivo, o Centro de Referência do Idoso da Estância de Ribeirão Pires, município da região metropolitana de São Paulo, está dando início ao projeto Vida Nova. Com a finalidade de resgatar a auto-estima do idoso e promover a sua integração à sociedade, o Vida Nova é desdobramento do projeto Afeto e Cidadania, criado pela ONG em 2000 e que de lá para cá funcionou em três edições, de cinco meses cada. A última edição foi encerrada este mês. Devido aos seus resultados positivos e aos pedidos dos próprios beneficiários, o Centro dá continuidade às atividades do projeto, agora com o nome Vida Nova. É um verdadeiro ânimo para a ONG, fundada há quatro anos, com o propósito de melhorar a qualidade de vida dos idosos de Ribeirão Pires, que somam em torno de 7 mil pessoas (cerca de 7 % da população do município). A iniciativa, que contava com o apoio de verbas públicas, busca agora financiamento junto à iniciativa privada, para garantir a manutenção das atividades e possibilitar o seu crescimento.
Segundo o coordenador do Vida Nova, Wilson Xisto Amorin, além da dificuldade de locomoção e renda insuficiente, muitos idosos vivem uma situação de abandono familiar e enfrentam o preconceito da sociedade, o qual acabam assumindo e incorporando. "O resgate da auto-estima é essencial para essas pessoas. Se não houver esse resgate, o envelhecimento ocorre cada vez mais rápido. Acho que a expectativa de vida no país pode ser muito maior do que é atualmente", diz o coordenador.
Para participar do projeto, é necessário passar por um processo de seleção, que tem como critérios: ter 60 anos ou mais, residir no município de Ribeirão Pires, ter renda familiar per capita de até um salário mínimo e estar apto a atividades físicas. Atualmente, 50 pessoas são atendidas pelo Vida Nova.
Os mecanismos utilizados para minimizar os problemas decorrentes do processo de envelhecimento buscam a integração da saúde física, mental e emocional dos idosos. Além de acompanhamento psicológico, são realizadas atividades de hidroginástica e bioginástica integrativa, método desenvolvido pelo próprio coordenador do projeto, que é professor de educação física. Segundo Wilson, através dessa técnica (que inclui relaxamento e alongamento), os idosos aprendem a ter consciência do seu próprio corpo, se desvinculam de vícios posturais e diminuem o estresse, responsável pelo esgotamento físico e o surgimento de doenças.
Para Wilson, a filosofia do Vida Nova é inovadora: "Em outros projetos acontece uma descaracterização do idoso; ele é tratado como criança. Aqui procuramos conversar de igual para igual com eles, fazer com que eles se vejam melhor e se assumam como pessoas idosas, que têm deficiências, mas que estas podem ser adaptadas." Os resultados são visíveis: elevação da auto-estima, diminuição de doenças (causadas por sedentarismo) e melhora da qualidade de vida. "Eles ficam mais soltos, leves", diz. Ainda devem ser contratados também profissionais de fonoaudiologia, assistência social, enfermagem, fisioterapia, nutrição, entre outros.
Esta nova fase acrescenta uma frente de trabalho, voltada para a geração de renda adaptada aos idosos, capacitação e inserção no mercado de trabalho. É mais um fator de estímulo e resgate de dignidade, pois valoriza as experiências pessoais, aumenta as expectativas na terceira idade, e possibilita que o idoso se sinta útil e produtivo. "Geralmente, as pessoas que se aposentam acham que já fizeram tudo o que tinham que fazer. Eu não concordo com isso, e acredito que muitos ainda querem trabalhar", afirma Wilson.
Cursos profissionalizantes de reciclagem e atualização, oficinas artesanais de sabonetes, costura, crochê, confecção de tapetes e almofadas, pequenas fábricas e lojas dentro do próprio Centro são algumas idéias para estimular o desenvolvimento de alternativas de geração de renda. Estão previstos também o estabelecimento de convênios com empresas e a formação de cooperativas. A grande meta não é a constituição de um centro de convivência para agradar simplesmente os idosos, e sim de uma associação que possa brigar por um espaço maior para a terceira idade no mercado de trabalho e na sociedade.
Wilson conta que no início do projeto perguntou a cada um dos participantes: "o que é felicidade para você?". As respostas não variaram muito: ver os filhos bem casados, netos bem criados... Então o coordenador tornou a questionar: "e você?". Esta foi a introdução para uma trajetória de cidadãos ativos e participativos, para a mudança de uma cultura (que ainda discrimina os idosos) e para construção de uma vida nova.
Mais informações sobre o projeto Vida Nova pelos telefones (11) 9179-5396 / 5561-4889.
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