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Sobem as cortinas

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor








Shakespare, Molière, Cervantes e Brecht - grandes nomes do teatro universal no coração do Brasil. Trata-se do Projeto Nessa Rua Tem Talento, realizado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, que utiliza o teatro para sensibilizar e educar adolescentes de alto risco social, e oferece o acesso à arte e à cultura à população de baixa renda. Em sete anos de atuação, o Nessa Rua já envolveu mais de 600 jovens. Atualmente, 90 participam do projeto.


O Projeto Nessa Rua Tem Talento nasceu em 1996, quando o casal Artur de Barros e Laís Dória juntou sua formação e experiência em arte-educação, pedagogia e teatro com a vontade de ajudar crianças de baixa renda a mudarem a sua vida, para iniciar um trabalho voluntário. Com a ajuda de outros profissionais da área, o trabalho rendeu a montagem de uma peça com qualidade de teatro profissional, que atraiu grande público na cidade - inclusive gente que nunca tinha ido ao teatro.


O sucesso do Nessa Rua alavancou a constituição da organização não-governamental Casa de Ensaio - Centro de Arte, Educação, Cultura, Social e Meio Ambiente, fundada em 2002, com a missão de criar, através de programas culturais, condições e oportunidades para que crianças e jovens possam desenvolver seu potencial como pessoas e cidadãos. A organização oferece oficinas de teatro, artes plásticas, dança, voz e inglês, e pretende incluir, no futuro, aulas de esportes, oficinas de estudo e conscientização ambiental, programas de alimentação e acompanhamentos médico e psicológico. Quinze profissionais, entre professores e voluntários, fazem parte da equipe. A família de Laís e Artur, também formada por artistas, reforça a contribuição à iniciativa. A ajuda financeira vem de empresas privadas.


Entrando em cena









Para entrar no projeto, os meninos e meninas têm que ter idades entre 10 e 13 anos, comprovar que são provenientes de famílias de baixa renda (até três salários mínimos) e estar matriculados em escola pública. O número de candidatos é muito maior do que o de vagas, o que demonstra um grande interesse das crianças pelo projeto e chama a atenção de Laís: "Aqui, as crianças da periferia são, em sua maioria, muito simples, envergonhadas e falam pouco. Só de elas virem fazer o teste, cantar, dançar na frente de outras pessoas, já vale muito".


As atividades acontecem de março a novembro, e são organizadas com base na obra de um dramaturgo. Ao fim de cada ano letivo, os alunos encenam em um grande teatro de Campo Grande uma peça dramática, adaptada para a realidade local. "O Avarento do Centro Oeste", baseada na vida e obra de Molière; "Moreninha1, Moreninha2", adaptação de Romeu e Julieta, de William Shakespeare (e que utiliza os nomes de dois bairros da periferia da cidade); e "João Além e sua comitiva", o Dom Quixote do Pantanal; como diz Laís, são algumas das montagens já encenadas. Este ano o trabalho vai ser em torno de três peças de Bertold Brecht, autor alemão cuja obra contém fortes preocupações sociais. O nome do espetáculo será "Coragem", que vai utilizar o tema do lixo, e tem estréia marcada para final de outubro. Todos os espetáculos têm entrada franca.









O projeto não aprofunda os temas das obras, mas, segundo Laís, ao contar histórias de grandes autores, coloca os seus participantes em contato com conhecimento e experiência cultural que dificilmente eles teriam com as poucas oportunidades que lhes são oferecidas. Ajuda-os também a ficarem longe das drogas e da prostituição, na medida em que oferece um espaço com atividades atrativas - uma alternativa à vivência nas ruas. Não há sequer problema de faltas. Geralmente, os alunos permanecem na iniciativa até entrarem na universidade ou encontrarem emprego. Alguns ex-alunos já trabalham como estagiários no próprio projeto. "Como essas crianças vivem em condições muito precárias, quando saem da escola, acabam ficando na rua e se expondo aos seus muitos riscos. No projeto, eles se afastam desses riscos e até o desempenho na escola melhora, pois passam a ter mais prazer em estudar", conta Laís. As aulas acontecem durante os finais de semana, feriados e férias escolares de julho, mas a idéia é ter aula de domingo a domingo, fora do horário escolar.


Para Laís, a transformação através da arte se dá a partir do momento em que os adolescentes se tornam mais sensíveis, refletem sobre algumas questões, se entendem melhor e, assim, desenvolvem auto-confiança e se preparam para a vida adulta. "Tentamos fazer com que cada um pense que pode mudar a sua história, busque a realização dos seus sonhos e uma profissão na qual se sinta valorizado", diz.


Mais informações sobre o Projeto Nessa Rua Tem Talento, pelos telefones (67) 382-1324 e (67) 324-3887.


 

Mariana Loiola

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