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Fóruns mundiais e sociais

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Temas e conceitos como governabilidade da água e privatização estarão em pauta em diversos eventos comemorativos ao Dia Mundial da Água, entre os quais o III Fórum Mundial da Água - que acontece de 16 a 23 de março, em três cidades japonesas - e o Fórum Social da Água, a ser realizado em quatro lugares diferentes, entre março e abril: de 16 a 23 de março, em Cotia, São Paulo; no mesmo período, em Nova Iorque (EUA); nos dias 21 e 22, em Florença (Itália); e em abril, em Gana.

O Fórum Mundial da Água é organizado pelo Conselho Mundial da Água (órgão não-governamental, criado em 1996 a partir de uma idéia surgida em encontros organizados pelas Nações Unidas. Do conselho participam representantes de governos, ONGs, setor privado e agências da ONU). Os dois primeiros fóruns aconteceram em Marrakesh, Marrocos (1997) e Haia, Holanda (2000). Neste último ganhou mais corpo e projeção o conceito de governabilidade. O evento - que, é bom ressaltar, não é promovido pelas Nações Unidas, nem se insere nas suas conferências temáticas - pretende ter a participação em igual número e importância de ONGs, governos e setor privado.

Apesar de receber algumas críticas por parte de organizações não-governamentais (alega-se que é dominado por governos), muitas instituições e pessoas do terceiro setor vão participar do encontro, a fim de marcar posição e não deixar que demandas identificadas por elas sejam esquecidas nas discussões internacionais. Um dos aspectos mais importantes do evento parece ser o encontro ministerial. Apesar de os documentos surgidos no Fórum não terem caráter mandatório, os compromissos que os representantes governamentais lá assumem são difíceis de ser ignorados, em função da seriedade das discussões e da notoriedade que o Fórum vem ganhando.

“Este é o momento de olharmos olho no olho. É claro que os governos dominam o evento, mas essa é a oportunidade para as pessoas estarem cara-a-cara, discutindo”, afirmou Ninon Machado, diretora do Instituto Ipanema, de malas prontas para o Japão. Ela vai participar do Fórum, na sessão sobre Gênero e Água, e de um workshop. ONGs do mundo todo estão organizando e propondo atividades no evento e já marcaram para o dia 15 de março uma reunião para definir estratégia e interesses comuns de participação.

“O Fórum Mundial da Água tem uma característica interessante de diversidade de organizações e credos. Boa parte das críticas feitas a ele partem do desconhecimento sobre suas origens, composição e organização. Confundem com eventos da ONU”, explica Maria do Carmo Zinato, pesquisadora do Florida Center for Environmental Studies e criadora e coordenadora do informativo Fonte d’Água. Ela lembra uma das atividades propostas pela sociedade civil organizada para esta edição do evento: trata-se do “Dia da Informação sobre Água”, promovido pelo Consórcio de Webs de Água, em cooperação com a Associação Americana de Recursos Hídricos (AWRA). A idéia é que a disseminação e troca de informação e conhecimento sirvam como fatores chave no apoio ao uso sustentável da água e do solo.

Holofotes em Cotia

Pretendendo ser um contraponto - ainda que tímido - ao Fórum Mundial da Água, ocorrem este ano as primeiras edições integradas dos fóruns sociais da água. Serão quatro eventos, em diferentes lugares do mundo, com a intenção de reproduzir a mobilização que acontece em torno do Fórum Social Mundial - óbvio, em proporções muito menores, mas com o mesmo interesse por parte do público-alvo. "A idéia de fazer estes eventos nacionais integrados surgiu no FSM 2003, dentro do Movimento Grito das Águas, em conjunto com o IGWC - Intergroup Water Coalition", explica Gilberto Marcelino, coordenador do Instituto Vis Viva - uma das entidades organizadoras do Fórum de Cotia. Segundo ele, a meta nos eventos é produzir idéias a serem reunidas e debatidas mais amplamente, com outros atores, no Fórum Social Mundial da Água (FSMA), que se pretende realizar junto com o Fórum Social Mundial 2004, na Índia.

Os organizadores pretendem atrair cerca de 700 pessoas por dia de evento, ambientalistas ou não. Na programação do evento de Cotia estão previstos temas como mobilização comunitária, saber para o mundo sustentável, a mídia e as águas, água e turismo, inovações tecnológicas etc., além de testemunhos sobre a experiência de Gana (onde a água foi privatizada). A vedete será no dia 22, com a realização de um link com o Fórum do Japão, onde estará o Professor Vagner Costa Ribeiro, do Instituto de Estudos Ambientais da USP. Por que a intenção de ser um contraponto? "Temos algumas críticas ao que vem sendo discutido nos Fóruns Mundiais da Água, aos conceitos que vêm surgindo e que têm consequências na gestão das águas nos países", esclarece Gilberto.


Maria Eduarda Mattar

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