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Atuação forte contra a guerra

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Nas últimas semanas o mundo presenciou diversas manifestações contra o ataque militar ao Iraque. Muitas delas foram organizadas ou contaram com a presença de organizações não-governamentais de diversas partes. Mas elas não cessaram suas atividades com a iminência do começo da guerra. Algumas das maiores ONGs de diversos locais do mundo tentam mobilizar milhares de pessoas pela Internet contra o conflito e até se preparam para agir na zona de combate.


É o caso da iniciativa “Ante la Guerra, Actúa!”, uma união de Greenpeace, Oxfam e Anistia Internacional espanhóis. A organização Médicos Sem Fronteiras já fez parte da coalizão, mas se retirou. O projeto conjunto tem no site a principal ferramenta de atuação, onde é possível enviar mensagens para chefes de governo e delegados nas Nações Unidas pedindo o fim da guerra e formas de ajudar na campanha pacifista. Argumentando que o uso da força no Oriente Médio causará violações de direitos humanos, devastação ambiental, mortes e destruição das estruturas sociais e econômicas do Iraque, os organizadores sugerem que os internautas enviem mensagens principalmente ao primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, que apóia o ataque, pedindo sua oposição ao conflito.


Desde 31 de janeiro, quando foi lançado o site, já foram enviadas mais de 180 mil mensagens ao chefe de governo da Espanha. Lá também estão os posicionamentos das três organizações e comentários atualizados sobre o andamento das operações diplomáticas e de guerra. Há ainda uma agenda de mobilizações contra a ofensiva, entre elas vigílias em frente às embaixadas norte-americanas na Europa e sugestões de ações diretas do Greenpeace.


Posicionamentos


De acordo com a posição oficial da Anistia Internacional, publicada na página da organização –onde há outra mensagem para ser endereçada a Aznar -, o argumento de que o ataque se justifica pelas violações aos direitos humanos no país de Saddam Hussein “não é mais que uma manipulação fria e calculista do trabalho dos ativistas de direitos humanos”. Por isso pede ao Conselho de Segurança da ONU que pense nas conseqüências humanitárias do ataque. Aos que duvidam da eficiência do envio de cartas e mensagens a autoridades, Ana Grau, assessora de comunicação da Anistia Internacional espanhola, manda o recado: “Ao longo dos anos de nossa atuação, o envio de cartas tem surtido efeito, pois fazemos um esforço de conscientizar e fazer pressão sobre os mandatários mundiais”.


O trabalho dos ativistas não pára aí. A Intermón Oxfam, da Espanha, se posiciona contra qualquer ação militar para solucionar conflitos principalmente por causa dos danos causados na população infantil. Para a ONG, qualquer ofensiva, mesmo não autorizada pelas Nações Unidas, deve respeitar leis humanitárias.


A página britânica da organização redigiu uma petição, assinada por 20 mil pessoas, enviada a Tony Blair com apelos para que o primeiro-ministro não levasse a guerra adiante. Ainda segundo a Oxfam, todos os países vizinhos deveriam manter suas fronteiras abertas para os refugiados e as ações humanitárias não devem ser feitas por tropas, mas sim por forças da ONU ou de organizações sociais, pois estas estão preparadas para socorrer vítimas.


Voluntários


A mesma posição tem os Médicos Sem Fronteiras, que inclusive já enviou uma equipe voluntária a Bagdá e outras cidades na fronteira com o Iraque. “Não podemos misturar a questão militar com a humanitária”, diz Flávio Guilherme, assessor de comunicação da organização no Brasil. Na capital iraquiana haverá um cirurgião, um anestesista, um médico de emergência, o chefe de equipe e um encarregado de logística. Os voluntários são provenientes de Itália, França, Áustria, Noruega, Sudão e Argélia.


Os seis informarão à organização sobre o andamento do conflito e pedirão, caso a situação se agrave, reforço. Além disso, irão atuar junto a hospitais e postos de saúde daquela cidade. Haverá ainda cinco profissionais em Amã, capital da Jordânia, seis na fronteira jordaniana com o Iraque, mais seis na fronteira com o Irã e dois na Síria. Está sendo estudado ainda o envio de voluntários para a região do Curdistão, no norte do Iraque, Turquia e Kwait.


De acordo com Flávio Guilherme, o MSF não é contra nem a favor da guerra por ser uma organização humanitária e não política, mas não aprovam de maneira nenhuma os efeitos do conflito na população. “A guerra é má pelas conseqüências que traz. Quem está certo não importa, pois sempre há prejuízo para os dois lados”, lembra. Por causa desse posicionamento, o MSF se retirou da iniciativa Ante la Guerra, Actúa. “A presença de nossas equipes no Iraque nos impede de compartilhar posicionamentos que possam pôr em perigo a operação e a segurança das pessoas no terreno”, afirma Amanda Sans, do MSF espanhol.


O Greenpeace também se posiciona contra a guerra e estimula o envio de mensagens a autoridades, tanto de governos a favor do ataque quanto os contrários. “Temos que pressionar os favoráveis a desistir e os demais a tomar ações diplomáticas pelo fim do conflito”, diz a assessora de comunicação do Greenpeace brasileiro, Gabriela Vuolo. A organização acusa os EUA de estarem em busca de petróleo, teme as conseqüências ambientais e humanitárias do conflito e repudia uma guerra sem apoio do Conselho de Segurança da ONU, que para a ONG é ilegal. De acordo Frank Guggenheim, coordenador-executivo da organização no Brasil, ainda é cedo para medir os danos ambientais. “Tudo depende do tipo de armas utilizadas e das ações tomadas. Em 1991, na primeira Guerra do Golfo, por exemplo, houve grandes impactos em terra e mar. A fauna marinha foi prejudicada e poços de petróleo, queimados”, lembra.


Na Espanha, o Greenpeace participa do Ante la Guerra, Actúa, onde sugere o envio de cartas ao Conselho de Segurança da ONU e propõe manifestações. Já no Brasil, há uma carta-padrão a ser endereçada ao embaixador da Missão Permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas, Luis Tupy Caldas de Moura, com apelos à paz no planeta em nome da Resolução 377 da ONU. O documento, entitulado “Unindo-se pela paz”, afirma estar consciente de que “uma paz genuína e duradoura depende também da observância dos Princípios e Propósitos estabelecidos na Carta das Nações Unidas, do cumprimento das resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança, pela Assembléia Geral e pelos outros principais órgãos das Nações Unidas destinados à manutenção da paz e da segurança internacionais”.


Após o término do conflito é possível que o Greenpeace Internacional envie ativistas ao Oriente Médio para ajudar na reconstrução ambiental da região, como foi feito em 1991.


Consequências


Nenhuma das organizações afirmou ser possível prever o número de mortos ou feridos no ataque ou mesmo as conseqüências humanitárias dos bombardeios, mas de acordo com o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Kenzo Oshima, as conseqüências serão graves. Em pronunciamento feito em 13 de fevereiro, ele previu que aproximadamente 10 milhões de pessoas podem precisar de mantimentos durante e após o conflito e o número de refugiados deve oscilar entre 600 mil e 1,45 milhão. Além disso, de acordo com estudo feito pelas Nações Unidas 100 mil civis iraquianos devem ser feridos e outros 400 mil sofrerão com doenças causadas pelos bombardeios e a falta de água e comida no país.


Razões suficientes para interromper os ataques, obedecer as resoluções internacionais, e  - não menos importante - ouvir os apelos da sociedade civil.


 


Marcelo Medeiros

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