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Impulso para os pequenos

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Para muitas organizações, só falta um incentivo inicial para colocar em prática os seus projetos sociais. Neste ano, trinta projetos do estado do Rio de Janeiro receberão esse impulso através do FundoAfro - Fundo de Apoio a Pequenos Projetos. Inaugurado em 2001 pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), em parceria com a Fundação Interamericana (IAF), o FundoAfro apóia grupos, associações ou organizações em trabalhos voltados para o desenvolvimento de comunidades de baixa renda e que tenham como principais beneficiários a população negra. Serão aprovados 28 projetos de R$ 3.800 e dois de R$ 7 mil neste primeiro semestre. As inscrições já estão abertas.


A proposta do Fundo surgiu a partir da experiência do Ceap no desenvolvimento de trabalhos de articulação, assessoria e formação, junto a comunidades de base. A instituição percebeu que muitos grupos dessas comunidades tinham dificuldade técnica para elaborar os projetos, o que, consequentemente, impossibilitava o acesso a financiamentos.


O foco do FundoAfro este ano são os projetos voltados para as mulheres negras e jovens: dos 30 projetos selecionados, 15 deverão ser voltados para geração de renda com mulheres e 15 para um público beneficiário mais geral. A coordenadora justifica esse foco ao argumentar que a mulher é a principal agente transformadora da comunidade. "A mulher tem grande força criadora, gestora e de grande agregação de grupo. Por outro lado, muitas mulheres das comunidades são chefes de família e, no entanto, têm uma situação econômica inferior em relação aos homens", diz.


Entre os critérios de seleção, Marilene de Paula, coordenadora do FundoAfro, destaca a consistência do projeto. "É muito importante que o projeto já esteja estabelecido, com um trabalho solidificado na comunidade. Vemos que muitos não têm clareza quanto à sua missão e aos seus objetivos", afirma. Tal solidez possibilitará que, mesmo após o esgotamento dos recursos fornecidos pelo FundoAfro, a entidade ou grupo busque a sua própria autonomia. Os projetos, que serão avaliados pela equipe técnica do Ceap, deverão contribuir para a formação de agentes comunitários e o desenvolvimento local.


As organizações e os grupos legalizados terão prioridade. No entanto, as que não forem legalizadas não serão excluídas da seleção, e poderão até receber a ajuda do FundoAfro na sua legalização, como foi o caso do Instituto Baobab – Educação, Gênero e Culturas Negras. O trabalho do Instituto financiado pelo Fundo foi um curso de formação na área de educação infantil, voltado para professoras do ensino básico. O curso forneceu a 50 professoras de escolas, localizadas em comunidades de baixa renda, instrumentalização pedagógica para trabalhar, em sala de aula, a construção da identidade da criança negra. Vera Neri, coordenadora do Instituto Baobab, diz que, além de viabilizar a realização da proposta do curso, o Fundo ajudou a estruturar a organização, direcionando parte dos recursos para o registro em cartório.

Capacitação e parcerias

Os projetos poderão ser financiados de acordo com suas especificidades e necessidades – os recursos servirão para custear cursos ou a compra de equipamentos, por exemplo. Além do apoio financeiro, o Ceap oferecerá às organizações e grupos beneficiados pelo Fundo um curso de gestão e elaboração de projetos. Outra forma de ajuda oferecida pelo Fundo é a abertura de canais entre os projetos e ONGs e o poder público, que poderá resultar na formação de parcerias, como, por exemplo, o projeto desenvolvido pelo Centro de Estudos de Teologia Negra. Através do Fundo, a entidade conseguiu formar parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), para a produção de um vídeo que pretende recuperar o trabalho social feito pelas casas de religiões afro-brasileiras. São filmagens feitas em terreiros de Nova Iguaçu, São João de Meriti, Duque de Caxias e da capital fluminense. Segundo Geraldo Rocha, coordenador da entidade, o vídeo tem como objetivo diminuir o preconceito em relação a essas religiões, e será voltado para estudantes, para as próprias comunidades e, principalmente, para ser utilizada pela militância do movimento negro.


A consciência negra é outro aspecto importante para ser desenvolvido entre os projetos selecionados pelo FundoAfro, que, segundo a coordenadora, foi constituído num momento propício para se falar e refletir sobre discriminação racial. "Quando você olha as comunidades de baixa renda, vê que a grande maioria da sua população é negra", diz Marilene, que acrescenta que, mesmo dentro dessas comunidades, ainda é necessário muito trabalho de conscientização. "Em geral as pessoas dizem que não sofrem preconceito, mas quando vamos debater e refletir sobre suas relações, dão-se conta da discriminação que sofrem no seu cotidiano."


Em abril, o Ceap deve dar início a uma rede solidária de pequenos empreendedores sociais, que facilitará o intercâmbio entre as organizações. A principal proposta da rede é que, através da comunicação pela Internet e encontros, os projetos apoiados possam trocar experiências e, a partir das discussões, encontrar soluções e subsídios para os problemas e desafios de seus trabalhos.


O prazo para envio dos projetos vai até o dia 10 de abril. Instruções para apresentar o projeto podem ser obtidas na página www.alternex.com.br/~ceap. Outras informações, pelos telefones (21) 2232-1557 e (21) 2224-8530 e pelo correio eletrônico ceap@alternex.com.br ou fundoafro@hotmail.com.


 


Mariana Loiola

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