Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
O sonho de um grupo em São Paulo é fazer com que as crianças que nascem com lesões na face se sintam crianças normais, aceitas e respeitadas. Trata-se do Centro de Amparo e Proteção à Infância São Francisco de Assis (Capi), voltado para o apoio a crianças com lesões orofaciais e crânio faciais - como a fissura de lábio e/ou palato (céu da boca), causadas por má formação dessas regiões nos primeiros meses de gestação. A instituição desenvolve trabalho de forma complementar ao atendimento gratuito de hospitais especializados em Santo André e Bauru. Formado por pais e mães de crianças com essas anomalias faciais, o grupo atua pela integração entre essas crianças (também conhecidas como fissuradas) e as crianças sem lesões. Ao todo, são atendidas atualmente 130 crianças de 8 a 17 anos, de baixa renda, sendo 26 fissuradas.
O projeto começou em 1981, atendendo crianças com diversas síndromes. Em 1988, passou a ser voltado especificamente para fissurados, em razão de existirem poucas instituições que se dedicassem a essas pessoas.
O trabalho de apoio começa no momento do nascimento, com o esclarecimento às mães, para incentivar o início e a continuidade da série de procedimentos médicos que são exigidos até a idade adulta. Vânia Eustáquia, coordenadora cultural do Capi, diz que quando uma criança nasce com lesão, a mãe não aceita o problema e muitas vezes tem vontade de abandoná-lo. "Nós procuramos explicar a essa mãe que existe tratamento para o seu filho. Ela precisa ser dedicada e ter muita paciência", diz.
Segundo Vânia, após sucessivas cirurgias para corrigir as lesões na face, as crianças conseguem se sentir muito próximas daquelas chamadas de normais. Assim, são consideradas aptas pelo Capi a fazerem parte de um programa de integração com crianças que não possuem essas anomalias – o Projeto de Integração Musicarte. Pela iniciativa, as mesmas crianças que não conseguiam falar passam a cantar. Elas fazem aulas e preparam apresentações de música, dança, teatro, artes plásticas e artesanato. As atividades acontecem aos domingos num espaço cedido por um colégio particular em São Paulo. "A intenção desse trabalho de integração é fazer com que as crianças com lesões fortaleçam a sua auto-estima e não se sintam discriminadas e rejeitadas pela sociedade", afirma a coordenadora. Quando estão perto de atingir a maioridade, o projeto procura encaminhar os adolescentes para o mercado de trabalho.
Os 18 pais e mães que hoje integram a equipe do Capi contribuem como podem nesse trabalho de solidariedade. Todos são voluntários. O grupo recebe a ajuda, também voluntária, de profissionais de fonoaudiologia, psicologia, odontologia e que façam cirurgias, além de doações de materiais de empresas privadas para as atividades do projeto. Bazares para venda de cartões e artigos de artesanato constituem fonte de recursos para a entidade.
Para este ano, o grupo pretende conseguir uma sede própria para realizar as suas atividades, incluir aulas de introdução ao samba e buscar recursos para montar uma escola de samba. A coordenadora justifica estes planos lembrando que as crianças ficam bastante entusiasmadas com os preparativos para o carnaval e já saíram em blocos carnavalescos em três ocasiões.
Vânia, que também é mãe de uma criança fissurada, conta que quando seu filho nasceu se sentiu penalizada. Até os três anos não entendia o que ele falava. Mas, com o tratamento adequado, a participação no projeto e após 17 cirurgias, ele teve um grande progresso. Hoje, com 14 anos, ele está cursando o sexto ano de música erudita na universidade e coordena a parte musical do Musicarte, regendo o coral e ministrando exercícios musicais. A sua melhora é acompanhada pela mãe com muita emoção: "Hoje olho para ele e me encho de orgulho".
Quem quiser conhecer mais sobre a entidade ou colaborar, pode entrar em contato com o Capi através dos telefones (11) 5562-1833 e (11) 5565-2107 ou pelo correio eletrônico capifrancisco@hotmail.com.
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