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Saúde e educação na beira do rio

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor








Populações ribeirinhas da Amazônia têm recebido uma ajuda valiosa para melhorarem sua qualidade de vida. O trabalho do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia (Napra) beneficia cerca de 2.500 moradores da Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em Rondônia, dos distritos de São Carlos do Jamari e Calama, em Porto Velho, e os que estão localizados ao longo do Rio Madeira. Praticamente isolada, a região recebe do Napra o principal atendimento em saúde.


O Napra atua na região desde 1995, com o desenvolvimento de serviços de assistência médico-odontológica e promoção da saúde, através de ações curativas e preventivas. O trabalho é transdisciplinar: envolve diversas áreas do conhecimento, como medicina, odontologia, biologia, economia, educação física, enfermagem, engenharia, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, odontologia, psicologia, entre outras. Formada por profissionais, professores e alunos de universidades de vários cursos, a equipe procura trabalhar de forma integrada.


O projeto busca suprir necessidades das comunidades ribeirinhas do estado que vivem da pesca e da coleta, mas em situação precária em função do difícil acesso de profissionais à região, da distribuição desproporcional da população e da escassez dos recursos. O trabalho é feito em complementação aos serviços de saúde oferecidos pela prefeitura de Porto Velho, que não dão conta de atender toda a população e têm um enfoque mais assistencialista. O Napra, ao contrário, realiza não apenas atendimentos, mas também atua na transformação da realidade local e na efetiva melhoria da qualidade de vida da população. A partir de 2001, por uma solicitação das próprias comunidades, o projetou passou a dar mais enfoque à educação. "A equipe está sempre em contato com educadores e líderes comunitários, que reivindicavam projetos mais educativos", conta Hamilton Modesto Rigato, coordenador do Napra.


O atendimento médico é um chamariz para que as pessoas assistam a palestras sobre diversos temas, como sexualidade, aleitamento materno, saneamento básico, saúde bucal, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, doenças de pele, câncer de útero e câncer de mama, entre outras. Existem orientações bem específicas para a comunidade, como, por exemplo, sugestões de alongamentos para pescadores e agricultores que costumam sentir dores no corpo e orientações para prevenir problemas auditivos provocados por motores de barcos de pescadores.









A equipe, que trabalha de forma voluntária, é composta por 15 profissionais formados e 40 alunos de universidades de São Paulo. Os atendimentos se concentram no mês de julho, durante as férias escolares dos estudantes. A cada visita, a equipe atende, em média, 2.500 pessoas. "Equivale a cinco anos de trabalho da prefeitura", diz o coordenador. São atendidas pessoas de todas as faixas etárias, mas a prioridade é dada às crianças e aos adolescentes. Estes são convidados a acompanharem de perto a atuação da equipe. "Assim, eles retêm mais as informações do que se tivessem sido simplesmente beneficiados. É uma forma de despertar neles o interesse em estudar o assunto para depois voltarem à comunidade para aplicar seus conhecimentos", afirma.


Com o auxílio de um barco-hospital, o Napra leva os seus serviços à população ainda mais isolada, que vive ao longo dos rios, fora das sedes de distritos já atendidos pelo projeto. Além de recursos médicos e odontológicos, o barco é provido de farmácia, laboratório para análises clínicas, alojamento de pessoal, cozinha, computador e uma voadeira – objeto utilizado para transporte de pessoal e equipamento a regiões inacessíveis ao barco.


Segundo Hamilton, a equipe é sempre recebida em grande festa pela comunidade, que se mobiliza para recebê-la. "Quando perguntamos qual foi a última vez em que as pessoas foram ao médico ou ao dentista, geralmente respondem que foram na última vez em que estivemos lá. Ou seja, se deixássemos de ir, eles poderiam ficar anos sem passar por uma avaliação médica".


Atividades educativas ajudam no trabalho de conscientização. Uma atividade que mobiliza muito a comunidade é a organização de um grupo de teatro formado por adolescentes. Orientados por psicólogos, os jovens levantam um assunto de seu interesse, como sexualidade, drogas ou gravidez precoce. Daí buscam mais informações sobre o tema escolhido com os outros profissionais do projeto e, durante uma apresentação na escola, mostram o que aprenderam a crianças, adultos e outros adolescentes.


Desenvolvimento sustentável e preservação ambiental são outros assuntos trabalhados junto à comunidade pela equipe do projeto, que faz ainda a coleta de material para pesquisa, inclusive de doenças tropicais. O resultado de todo esse trabalho, aplicado praticamente em apenas um mês, é a diminuição do índice de doenças e o aumento da conscientização da população. Se a equipe crescer, o projeto pode ser expandido até mesmo em outras localidades, como Atibaia, São Paulo, onde o Napra atua desde 2001, em parceria com o Projeto Curumim, atendendo populações de excluídos.


O Napra recebe apoio da iniciativa privada e não tem ainda vínculos diretos com universidades, mas, segundo o coordenador, pretende estabelecer parcerias e estimular profissionais e estudantes de outras faculdades a participarem do projeto. Para este ano, está sendo planejada a formação de diversas equipes, para abranger mais comunidades ao longo do rio, tanto no atendimento no barco quanto fora dele. "Queremos ir aonde ninguém vai", diz.


Mais informações sobre o Napra pelo telefone (11) 4411-5800 ou pelo correio eletrônico hamilton.rigato@napra.org.br.

Mariana Loiola

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