Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
Os incidentes de erros de ataques das tropas norte-americanas não atingiram, por exemplo, jornalistas que vinham acompanhando as tropas dos EUA - os que vêm sendo chamados de jornalistas "embedded". Uma novidade neste conflito, a permissão para que os repórteres acompanhem as forças do exército são justificadas pela afirmação de que, assim, os repórteres estão mais protegidos justamente de possíveis acidentes. Assim, o comando norte-americano procurou se eximir de culpa em incidentes como o que aconteceu no dia 8 de abril: avisou antes que não poderia garantir a segurança daqueles que não estivessem "embedded".
Estes, no entanto, por acompanharem as tropas, correm outro tipo de risco - o de terem suas atuações questionadas: estariam tendo acesso a todas as informações ou teriam apenas dados limitados? Até que ponto o fato da chegada de informações ter que passar pelas tropas afetaria a verossimilhança e a imparcialidade dos relatos e reportagens? São questões ainda sem resposta, uma vez que a própria prática é uma novidade. "A preocupação com a segurança é válida, sim. Mas o que não se pode perder de vista é a necessidade de um outro ponto de vista, ou melhor, de outros pontos de vista, de mais informações", afirmou à Rets o diretor para as Américas dos Repórteres Sem Fronteiras, Regis Bougeat.
Outra grande preocupação com a parcialidade dos jornalistas - não nos relatos, mas nos conflitos em si - é a constatação de que alguns jornalistas têm levado armas ou seguranças armados para suas reportagens. Uma equipe da CNN deu grande exemplo disso, no último dia 13. Viajando em comboio, o grupo foi atacado e os seguranças dos jornalistas, armados, revidaram. Não só o uso de armas é desaconselhado por razões lógicas - afinal, a zona é de guerra e qualquer um é suspeito, ainda mais portando uma arma - como práticas como estas abrem precedentes para que todos os jornalistas que cobrirem guerra levem armas, com a desculpa de autodefesa.
A linha que define se um jornalista é parcial ou imparcial em um conflito fica, assim, ainda mais tênue. As equipes de reportagem podem passar a ser alvos em si, independentemente de que país sejam ou mesmo se fazem parte de algum dos lados beligerantes, gerando novas frentes de batalhas. Questionamentos sobre a participação ou não de jornalistas em uma guerra podem ficar cada vez mais difíceis de se responder. "Criticamos de maneira muito forte esta atitude da equipe da CNN. A preocupação com a autodefesa é legítima, mas portar armas pode fazer de jornalistas alvos. Não se sabe até que ponto esta prática pode mudar a forma de se cobrir guerras", afirma Bougeat.
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