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Uma História do Nosso Futuro

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original:

Chris Bright*


Cerca de 40 a 50.000 anos atrás, alguns povos do Oriente Médio desenvolveram um tipo de ferramenta que, aparentemente, disparou uma expansão radical da mente humana. Ou, para ser mais cuidadoso, talvez esta ferramenta não tenha conseguido isto por si só - o fator crítico pode ter sido uma nova forma de pensar ferramentas. Ou talvez até uma nova forma de pensar em geral. Seja o que for, esses povos pré-agrícolas da Idade da Pedra aparentemente inauguraram o primeiro episódio de uma mudança social, em larga escala, na história de nossa espécie.


Até que suas inovações os destacassem, esses povos compartilhavam uma cultura geral que prevaleceu sobre a maior parte do Velho Mundo habitado. As principais tecnologias dessa cultura geral foram o uso do fogo e um conjunto relativamente simples de instrumentos feitos de lasca de pedra. Este conjunto foi o produto de quase 2,5 milhões de anos de desenvolvimento. Seu aperfeiçoamento ocorreu num ritmo insuportavelmente lento, pelos nossos padrões modernos - tão lento que poderia se assemelhar à mudança evolucionária. Pode-se até argumentar que o conjunto evoluiu mais vagarosamente do que a humanidade, uma vez que passou de mão em mão por pelo menos duas das nossas espécies precursoras (Homo habilis e H. ergaster) antes de chegar às nossas mãos.


Durante todo esse tempo, o conjunto sofreu apenas uma mudança significativa: a transição, há cerca de 1,7 milhões de anos, de cortadores e raspadores toscos desenvolvidos pelo H. habilis, para os instrumentos de pedra maiores, e mais especializados, do H. ergaster. Uma outra grande mudança, há cerca de 250.000 anos, introduziu a tecnologia da lasca de pedra, herdada por aqueles povos do Oriente Médio. Três espécies humanóides, 2,5 milhões de anos e apenas dois grandes períodos de aprimoramento parecem parcos indicadores de um programa de domínio do planeta.


O que esses povos do Oriente Médio conseguiram foi romper aquele ritmo evolucionário lento de desenvolvimento tecnológico e criar uma abertura para o aceleramento de mudanças. Conseguiram isto, essencialmente, talhando lâminas da pedra. Em geral, estas ferramentas em forma de lâminas eram maiores do que as de lascas, com desenho mais apurado. Esta nova tecnologia é conhecida como aurinhaciana, conforme a gruta rochosa de Aurignac, nos Pireneus franceses, onde foi originalmente identificada por antropólogos. As lâminas aurinhacianas são artefatos simples de dimensões modestas - uma lâmina grande pode medir 14 centímetros de comprimento. Mas são belas, eficientes e, às vezes, um pouco ameaçadoras.


Dispomos apenas de uma ou talvez duas gerações para nos reinventar


Por razões que continuam obscuras, esta tecnologia ampliou-se rapidamente. Criando uma vasta expansão da vida social e cultural. O conjunto de ferramentas propriamente dito veio a incluir mais e mais equipamentos novos e especializados, como agulhas de marfim, pontas de lanças feitos de chifre de rena e cordas. Instrumentos mais sofisticados encorajaram um comércio mais extenso. Conchas do Mar Negro chegaram ao vale do Rio Don, 500 quilômetros ao norte; âmbar do Báltico seguiu até o sul da Europa. Flautas foram esculpidas de osso; a música havia obviamente se tornado parte da vida. Uma arte visual complexa surgiu pela primeira vez também, sob a forma de colares feitos de osso, pinturas nas cavernas e esculturas em osso, pedra e marfim. A inclusão de alguns desses colares e pinturas em funerais humanos tornou-se prática generalizada - uma forte evidência da emergência de religiões complexas. Todos esses acontecimentos se iniciaram num espaço inferior a 10.000 anos, ou cerca de menos da metade de 1 porcento de toda a vida anterior do conjunto de utensílios de pedra. Num momento evolucionário, sem qualquer precedente óbvio, a humanidade havia se reinventado.


O desenvolvimento da tecnologia aurinhaciana, que assinala a transição da era paleolítica média para a superior é, sem dúvida, a maior transformação pela qual nossa espécie jamais passou. Todas as grandes transformações que se seguiram - o desenvolvimento de instrumentos metálicos, a agricultura e as várias revoluções industriais da época mais recente - podem parecer mais dramáticas, porém nenhuma parece conter uma divisão psicológica tão profunda quanto a da transição aurinhaciana. Os povos nos extremos dessas outras transformações são seguramente humanos no sentido mais completo da expressão. Porém o estilo de vida aparentemente muito simples e quase estático da era pré-aurinhaciana, parece carente de pelo menos uma característica essencial à formação de todos os povos modernos: o hábito da inovação. Neste sentido fundamental, a transição aurinhaciana nos criou - não biologicamente, mas sim culturalmente.


Por ser um tipo de equivalente cultural ao "Big Bang" original, a transição aurinhaciana pode apresentar perspectivas importantes sobre nossa psicologia básica - e especialmente sobre nossa capacidade de mudança. Infelizmente, todavia, as causas da transição continuam obscuras, não por falta de teorias. (Uma explicação, por exemplo, evoca estresse ambiental: sabe-se que a transição ocorreu durante uma época de instabilidade climática, e a mudança climática poderia ter desafiado a criatividade das sociedades em áreas onde os recursos se exauriam.)


Mas, desviando das causas para as conseqüências, pode-se chegar a algumas conclusões que poderiam ser úteis para entender uma mudança social construtiva, em geral. Consideremos as três características seguintes da transição como um todo. Primeiro, a transição parecer ter gerado um imenso "dividendo resolutivo": melhorou os aspectos da vida que provavelmente tinham pouco a ver com o que porventura tenha causado a onda inicial de inovação. Segundo, a transição deslocou-se do simplesmente técnico para se tornar profundamente cultural: aparentemente iniciou como uma forma de fabricar ferramentas melhores, mas avançou para as artes, comércio e religião. E terceiro, a transição expandiu o mundo: criou novas formas de interpretá-lo - novas formas de estabelecer um "contexto profundo" para a vida social e individual como evidenciam, por exemplo, as magníficas pinturas das cavernas que os povos da era paleolítica superior nos legaram.


Os Desafios a Enfrentar


O povo que deslanchou essa transição viveu há, talvez, 2.500 gerações. Menos de 500 gerações depois, a primeira grande cultura mundial já estava firmemente implantada e o Homo sapiens se tornado algo mais do que apenas um grande primata comum. Foi apenas um piscar de olhos no tempo evolutivo. Nos, as gerações que hoje compartilham o planeta, nos vemos frente ao desafio de inovar num nível que poderá ser tão profundo quanto a conquista dos nossos ancestrais distantes. Não dispomos, porém, do tempo de 500 gerações para realizar tamanha façanha. A depender do grau de miséria e empobrecimento biológico que estamos dispostos a aceitar, dispomos apenas de uma ou, talvez, duas gerações para nos reinventar. Uma piscada de um piscar de olhos. Consideremos cinco das ameaças mais graves que os historiadores do futuro poderão utilizar para definir nossa era.


Primeiro, nosso mundo é um no qual um número cada vez maior de pessoas não dispõe de meios para manter um padrão decente de vida. A população global hoje excede 6,2 bilhões, mais do dobro do que era em 1950, estando atualmente projetada a atingir entre 7,9 e 10,9 bilhões até 2050. Quase todo este acréscimo ocorrerá no mundo em desenvolvimento, onde os recursos já estão sobre estresse agudo. Nesses países, quase 1,2 bilhão de pessoas - quase um quarto da população mundial - são classificados pelo Banco Mundial como vivendo em "miséria absoluta." Sobrevivem com menos de 1 dólar por dia, estando geralmente muito vulneráveis a outras desgraças - seja sob a forma de doença, seca ou falta de alimentos.


Mundialmente, cerca de 420 milhões de pessoas vivem em países que não dispõem mais de terras agrícolas per capita suficientes para cultivar seu próprio alimento. Essas nações são forçadas a importar alimentos - uma forma arriscada de dependência para os países mais pobres deste grupo. Até 2025, a população dos países que precisarão importar alimentos poderá ultrapassar 1 bilhão. A qualidade das terras agrícolas em muitos países pobres também está em declínio; acredita-se que aproximadamente um quarto das terras agrícolas do mundo em desenvolvimento esteja significativamente degradado, e ao longo dos últimos 50 anos a taxa de degradação acelerou. Mas em muitos lugares, a maior ameaça não será carência de terras, e sim carência de água. Mais de meio bilhão de pessoas já vivem em regiões propensas à seca crônica. Em 2025, este número provavelmente terá quintuplicado, para 2,4 - 3,4 bilhões. É verdade que existem ineficiências gigantescas e, em grande parte, evitáveis no sistema atual de abastecimento de alimentos e água, porém mesmo um provável aumento mínimo da população, da ordem de 27 porcento ao longo do próximo meio século, dificilmente incrementará estabilidade social ou ecológica.


Uma segunda ameaça: nosso mundo encontra-se sob uma profunda mudança geoquímica. Certas formas de poluição estão alterando os ciclos químicos globais que "regulam" processos-chave do ecossistema. O ciclo do carbono é o mais conhecido. Uma imensa quantidade de carbono que havia sido tirada de circulação há milhões de anos - através da absorção dos vegetais que, por sua vez, foram transformados em carvão e petróleo - está sendo hoje re-introduzida na atmosfera. As emissões anuais de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis atingiram um volume recorde de 6,55 bilhões de toneladas em 2001, elevando a concentração atmosférica de dióxido de carbono para 370,9 partes por milhão, o maior nível registrado em, pelo menos, 420.000 anos e provavelmente em 20 milhões de anos. Uma vez que o dióxido de carbono retém calor, sua concentração cada vez maior provavelmente provocará uma mudança climática acelerada.


Os ciclos do nitrogênio e fósforo, ambos reguladores importantes do crescimento vegetal, estão sendo submetidos a uma ampliação semelhante. O nitrogênio se torna biologicamente disponível quando é convertido da sua forma elementar inerte, através da "fixação" em moléculas que também contêm hidrogênio e oxigênio. Isto ocorre naturalmente pela ação de certos micróbios do solo e através da queda de raios. Mas as atividades humanas incrementaram muito o ritmo de fixação, principalmente através da produção de fertilizantes, queima de combustíveis fósseis e o cultivo generalizado de grãos que freqüentemente têm colônias de micróbios fixadores de nitrogênio em suas raízes. A destruição de florestas e terras alagadas libera um grande volume de nitrogênio adicional, já fixado, que havia sido seqüestrado em vegetais e solos. No todo, as atividades humanas devem ter no mínimo duplicado a liberação de nitrogênio fixo para 350 milhões de toneladas anuais. (Esta cifra não inclui mudanças na parte marinha do ciclo do nitrogênio, ainda não suficientemente conhecida.)


O ciclo do fósforo está sendo incrementado principalmente pela produção de fertilizantes. O fósforo no fertilizante origina-se em geral da extração mineral - uma ampliação radical do processo natural de sua liberação, através da desagregação das rochas. A liberação anual de fósforo sofreu aumento em sua taxa natural a um fator de 3,7, atingindo 13 milhões de toneladas por ano.


Uma vez que ambos, fósforo e nitrogênio fixo, são nutrientes vegetais, a presença em quantidades imensamente maiores que as naturais pode provocar mudanças ecossistêmicas profundas. Em ecossistemas aquáticos, esta poluição por nutrientes conduz à eutrofização - denso desenvolvimento de algas que causa obstrução da luz solar e queda aguda dos níveis de oxigênio dissolvido. No solo, a poluição por nutrientes pode homogeneizar comunidades vegetais diversificadas ao encorajar um desenvolvimento excessivo de espécies daninhas com melhor capacidade de absorverem o excesso de nutrientes. Muito nitrogênio também predispõe muitas espécies vegetais a doenças e ataque de insetos. (Os vegetais, como as pessoas, podem ser "glutões.") Sob certas formas, o excesso de nitrogênio fixo também é um importante componente da deposição de ácidos, mais conhecida como chuva ácida (embora grande parte da poluição chegue sob a forma de gases e poeira, ao invés de chuva ou neve). O efeito imediato da chuva ácida é acidificar o solo e a água, mas também provoca mudanças de longo prazo em solos que a tenham recebido de forma crônica: lixivia cálcio e magnésio, nutrientes vegetais essenciais, e libera alumínio da matriz mineral que o mantém biologicamente inerte. O alumínio liberado é tóxico para vegetais e vida aquática.


Uma terceira ameaça: nosso mundo está cada vez mais oprimido pelos riscos de longo prazo associados a produtos químicos tóxicos. Numa estimativa extremamente conservadora, por exemplo, a produção global de lixo nocivo atingiu 300-500 milhões de toneladas anuais. Dependendo da composição do lixo, sua destinação final pode envolver condensação (primeiro passo costumeiro da água contaminada), incineração, reciclagem ou neutralização através de tratamento químico ou biológico - todos com graus variados de eficácia. Ou o lixo pode ser injetado em poços profundos ou despejado em aterros, na esperança que permaneça - pelo menos por tempo suficiente até que se torne problema de outros. Obviamente, muitos materiais não classificados como lixo nocivo - ou lixo propriamente dito - também são grandes poluentes. Pesticidas, compostos anticongelantes utilizados para descongelar as asas de aviões, arseniatos cuprosos na madeira tratada para uso externo: consideramos cada um desses materiais como produto e não lixo, porém, sob uma perspectiva ambiental, isto é contabilidade falsa. Todos acabarão ao ar livre, seja na sua forma original ou como produtos decompostos (igualmente nocivos).


Nossa capacidade de rastrear os materiais que percorrem nossa economia é muito superficial, fornecendo apenas uma vaga idéia do insulto químico que estamos infligindo ao nosso mundo natural - e aos nossos corpos. Mas, há boas razões para achar que este insulto é gigantesco e crescente. Há, por exemplo, evidências generalizadas da poluição de aqüíferos (depósitos de água subterrânea) por produtos petroquímicos, metais pesados, nitratos de fertilizantes e outros produtos tóxicos. A poluição de aqüíferos é uma questão grave pois eles freqüentemente contribuem com mais da metade do volume de lagos e rios; são também uma das fontes principais de água potável e água de irrigação. Considerando que a água circula muito lentamente pelos aqüíferos - sua renovação completa leva, em geral, vários séculos - esta poluição se torna irreversível.


A composição dos próprios poluentes, especialmente os sintéticos, também é uma questão grave. Sabe-se que cerca de 50.000-100.000 produtos químicos sintéticos estão sendo produzidos, tais como plásticos, pesticidas, lubrificantes, solventes, etc. Outros são criados involuntariamente, como subprodutos industriais ou como produtos decompostos de materiais manufaturados. Muitos sintéticos não são danosos, mas já foi constatado que outros são extremamente perigosos, mesmo em quantidades ínfimas. Câncer, imunodeficiência, anormalidades hormonais e defeitos congênitos estão entre os riscos associados a eles - tanto para a vida silvestre quanto para as pessoas. Alguns desses produtos tóxicos se bioacumulam - ou seja, contaminam seres vivos em concentrações crescentes nos elos cada vez mais altos da cadeia alimentícia, uma tendência que representa perigo especial a predadores de alto-nível, como águias, cetáceos e nós mesmos. Muitos produtos sintéticos são hoje penetrantes em quantidades minúsculas, e muitos têm meias-vidas medidas em centenas de anos. Assim, por muitos séculos futuros, os próprios seres vivos serão um reservatório de contaminação.


Uma quarta ameaça: nosso mundo está sujeito a um grau sem precedentes de mistura biótica. Números crescentes de organismos, de praticamente todos os tipos, se deslocam através do sistema comercial global e surgem em regiões onde não são nativos. Essas espécies exóticas viajam na água de lastro dos navios, em material de embalagem, em produtos de madeira natural, em embarques de produtos agrícolas e por muitos outros meios. A maioria deles não sobrevive em seus novos lares, porém uma pequena parcela consegue implantar colônias. Quando uma espécie exótica não encontra nada em seu novo lar que mantenha sua população sob controle, pode cair numa farra reprodutiva. Dependendo de qual tipo seja, uma espécie invasiva poderá privar as espécies nativas de alguns recursos essenciais, propagar uma epidemia ou atacar as nativas diretamente.


Nosso mundo está cada vez mais oprimido pelos riscos de longo prazo associados a produtos químicos tóxicos.


O resultado freqüentemente vai além da supressão das vitimas imediatas das espécies exóticas para incluir outras espécies que dependem, de alguma forma, dessas vítimas. Por exemplo, a formiga argentina, altamente invasiva está desalojando muitas espécies nativas de formigas em regiões áridas dos trópicos e zonas temperadas quentes; a perda das formigas nativas, por sua vez, suprime as espécies vegetais que dependem delas para a polinização ou dispersão de sementes. A uma certa altura, uma cascata de efeitos ecológicos provocará mudanças profundas na comunidade invadida através da simplificação da sua estrutura, alterando seus ciclos de nutrientes e homogeneizando sua composição de espécies. Embora não haja estatísticas abrangentes sobre o problema, o desenvolvimento do sistema comercial praticamente garante o crescimento dos níveis de invasão. Mais e mais comunidades naturais diversificadas no mundo estão sob ameaça de serem dominadas por um número relativamente pequeno de organismos altamente invasores.


E finalmente, uma quinta ameaça: seja qual for a forma de mensuração, nosso mundo está num estado constante de declínio ecológico. As florestas tropicais primárias, em geral os mais diversificados ecossistemas do planeta, estão desaparecendo num ritmo que, provavelmente, excede 140.000 quilômetros quadrados por ano - uma área quase do tamanho do Nepal. Toda a cobertura florestal global, que hoje representa aproximadamente um quarto da superfície terrestre do globo, excluindo a Groenlândia e Antártida, pode já ter sido reduzida à metade, desde os primórdios da agricultura. Cerca de 30 porcento da floresta sobrevivente está gravemente fragmentada ou degradada e, só nos anos 90, o declínio da cobertura florestal global está estimado em mais de 4 porcento. Terras alagadas, outro tipo altamente diversificado de ecossistema, encolheram em mais de 50 porcento durante o último século.


O que parece perfeitamente comum após o fato, quase sempre pareceria como um milagre antes.


Recifes de coral, os ecossistemas aquáticos mais diversificados do mundo, estão sofrendo os efeitos da pesca predatória, poluição, disseminação de epidemias e do aumento das temperaturas da superfície marinha que muitos especialistas relacionam à mudança climática. No final de 2000, estimava-se que 27 porcento dos recifes de coral do mundo estivessem gravemente danificados, contra apenas 10 porcento em 1992. Em todos os oceanos, a pesca predatória está causando um prejuízo ainda maior: cerca de 60 porcento dos pesqueiros mundiais estão, hoje, sendo explorados no limite, ou além, da sua capacidade - um convite para uma extensa destruição ecológica. De acordo com a IUCN - World Conservation Union, aproximadamente um quarto dos mamíferos do mundo está ameaçado de extinção, como também 12 porcento das aves mundiais. Não existem dados abrangentes para outros grupos de organismos, mas em amostras de outras classes de vertebrados, os níveis de perigo eram igualmente altos: 25 porcento para répteis, 21 porcento para anfíbios e 30 porcento para peixes.


Milagres Normais


Essas avaliações de danos freqüentemente têm algo de irreal por não ter nenhuma relação óbvia com a vida comumente vivida - pelo menos pelos prováveis leitores deste livro. Há várias razões para esta desconexão. Em primeiro lugar, grandes economias tendem a deslocar os efeitos maléficos do comportamento propriamente dito. Poucos de nós jamais se defrontaram com lixo tóxico, degradação do solo ou extração mineral ou madeireira insustentáveis, que apóiam nossos padrões coletivos de consumo. Deve estar presente aqui também um problema psicológico básico, uma vez que grande parte da degradação ambiental não está claramente visível. Seres humanos conhecem seus mundos, em grande parte, baseados na visão; ameaças invisíveis, especialmente as de longo prazo, não parecem afetar nossas forças evolutivas.


De forma mais genérica, é possível que nossa própria adaptabilidade inerente, até certo ponto, funcione contra nós - impedindo-nos de perceber a gravidade da situação. Homo sapiens é o animal terrestre supremo, haja vista os sucessos de nossos ancestrais distantes. O fogo e algumas ferramentas simples de pedra foram todo o equipamento que necessitaram para colonizar continentes inteiros. Somos uma espécie generalista e não uma espécie especialista. Não somos como pandas, sanhaços ou orquídeas. Somos mais como dentes-de-leão, estorninhos e ratos. Não precisamos de um alto nível de integridade natural para progredir - e aparentemente não estamos predispostos a reagir com alarme à sua perda.


Porém o maior obstáculo à nossa própria reinvenção pode ser simplesmente um tipo de paralisia da esperança. É possível perceber claramente que nossas economias modernas são tóxicas, destrutivas em escala gigantesca e tremendamente injustas -poder ver tudo isto e ainda ter dificuldade para imaginar uma reforma eficaz. Não é que seja difícil visualizar os caminhos que uma reforma teria que percorrer; nesta altura, temos uma idéia razoavelmente clara de onde teremos que chegar (pelo menos em nível técnico, quando não em nível cultural). Na economia energética, por exemplo, o caminho da reforma se distancia dos combustíveis fósseis, direcionando-se para fontes renováveis, como a energia eólica e solar. Na produção de materiais, distancia-se da dependência primária na mineração e se dirige a ciclos de reutilização contínua. No comércio, o caminho presumivelmente conduziria a um compromisso significativo com questões ecológicas, como bioinvasão e sociais, como a perda de produção local. E nas relações internacionais, o caminho poderia começar com um reconhecimento do óbvio: construímos uma economia global que destina um quarto da humanidade à miséria da pobreza absoluta, enquanto os 20 porcento da parcela mais rica da população mundial representam 86 porcento do consumo privado total. Mesmo que descartemos os insultos à razão e ética, é difícil conceber que tipo de "segurança" um mundo assim poderia oferecer.


Todavia, apesar da necessidade óbvia de mudanças e apesar da nossa óbvia competência técnica, ainda é difícil acreditar que mudanças reais e fundamentais sejam possíveis. Estamos acostumados a constantes variações nos detalhes do cotidiano, entretanto a estrutura básica do status quo sempre parece extremamente inalterável.


Mas não é. Mudanças profundas para melhor realmente ocorrem, mesmo que sejam difíceis de perceber porque um dos efeitos mais comuns do sucesso é aceitá-lo como natural. O que parece perfeitamente normal após o fato, quase sempre pareceria um milagre antes. Ou, às vezes, talvez mais do que um milagre: as conseqüências da transição aurinhaciana provavelmente não seriam compreensíveis antes do fato. Consideremos dois milagres normais da nossa própria era - duas mudanças onde o esforço tecnológico criou uma imensa oportunidade cultural, e onde os benefícios se acumularam desproporcionalmente aos custos.


Vejamos primeiramente a erradicação da varíola. Em janeiro de 1967, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou um programa destinado a eliminar a varíola dentro de uma década, a doença contaminava 10-15 milhões de pessoas anualmente, principalmente crianças. Matou 1,5-2 milhões, deixando muitos dos sobreviventes cegos ou desfigurados pelas marcas da doença. Mais de 1 bilhão de pessoas, 29 porcento da população mundial da época, vivia em países onde a doença era endêmica. Mesmo nos países industrializados, onde programas abrangentes de vacinação a haviam eliminado como ameaça endêmica, a varíola continuou representando um problema crônico de segurança, devido aos riscos de contaminação do exterior.


Quando foi anunciado, o programa da OMS foi considerado ingênuo por muitos cientistas e autoridades da saúde pública. Havia surgido de um acordo decidido na XII Assembléia de Saúde Humana, em maio de 1959, que também determinava a eliminação da varíola mas pouco conseguiu. Os precedentes com outras doenças foram igualmente decepcionantes. Campanhas de erradicação freqüentemente obtiveram resultados promissores em algumas regiões, mas sempre fracassaram quando ampliadas em nível global. O primeiro desses esforços, uma campanha para erradicar o parasita intestinal ancilóstomo, foi lançado em 1913 no rastro de um programa bem-sucedido de controle, no sudeste dos Estados Unidos. Mas, no início dos anos 20 ficou claro que o parasita não era suficientemente conhecido para ser eliminado em todos os lugares. A campanha global contra a febre amarela, iniciada em 1918, surgiu de sucessos anteriores no Panamá e em Cuba, porém o objetivo de erradicação teve que ser abandonado no início dos anos 30 após a descoberta, por pesquisadores na América do Sul, da febre amarela em mamíferos silvestres - reservatórios da patogenia que não tinham como eliminar.


A erradicação da malária seguiu o mesmo caminho. No final dos anos 30, no Nordeste do Brasil, uma campanha contra um recém-chegado mosquito africano, Anopheles gambiae, a erradicou totalmente em menos de dois anos. Este mosquito é o mais importante transmissor da malária da África. Sua remoção do Brasil foi uma conquista impressionante, mas este sucesso foi um precedente enganoso: a erradicação global da malária, iniciada em 1955, começou a desacelerar em meados dos anos 60. Foi abandonada em 1969 após ser reconhecido que, na maioria das áreas endêmicas, não era possível suprimir os mosquitos por tempo suficiente para expurgar da população humana os parasitas causadores da doença. (Vide Capítulo 4.) No final dos anos 60, o conceito de erradicação da doença como objetivo programático começou a ser desmistificado. Em seu livro publicado em 1965, Man Adapting, o renomado cientista e filósofo René Dubos captou a atitude predominante: "programas de erradicação," escreveu ele, "virão a se tornar um item de curiosidade nas prateleiras de bibliotecas, como todas as utopias sociais."


Falta de credibilidade não foi o único problema da campanha da varíola. Havia uma carência crônica de recursos, faltava-lhe qualquer autoridade além da moral e nem sempre foi considerada como prioridade nos países em desenvolvimento, onde a varíola era quase sempre apenas uma entre muitas ameaças graves à saúde pública. Mas, apesar de todos os obstáculos, a campanha teve sucesso - graças à persistência, disposição de se adaptar a condições variadas e um conhecimento profundo das fraquezas da patogenia. (A varíola foi um bom alvo para erradicação por não ser "vetorizada" - sua transmissão se dava diretamente de uma pessoa para outra - e por haver uma vacina confiável contra ela.) O último caso mundial de varíola "natural" (não de laboratório) ocorreu na Somália, em 26 de outubro de 1977, apenas 10 meses além da meta estabelecida para erradicação. O custo total do programa da OMS provavelmente atingiu menos de US$ 300 milhões (equivalentes hoje a US$700-800 milhões). Mesmo em termos econômicos simples, todos os países se beneficiaram pois não havia mais necessidade de medidas preventivas contra a doença. Estima-se que os Estados Unidos, o maior doador individual para a campanha, recupera sua contribuição total a cada 26 dias. Não ocorrendo liberação do patógeno de um dos seus estoques conservados artificialmente, a varíola provavelmente é um problema resolvido e o mundo, conseqüentemente, um lugar melhor para se viver.


A erradicação da varíola exigiu a cooperação de milhares de autoridades e trabalhadores de campo - e milhões de pais de crianças não vacinadas. Porém, como programa da OMS, foi apenas uma mudança de cima para baixo. Em muitas frentes, todavia, mudanças construtivas provavelmente dependerão muito mais da iniciativa pública - de um senso de direção fornecido por organizações não-governamentais e um grande número de pessoas, individualmente. Mudanças de baixo para cima serão provavelmente mais difusas e menos "focadas," mas aqui, também, há precedentes encorajadores.


Consideremos o crescimento populacional, um dos maiores problemas ambientais e, de certa forma, um dos menos "públicos." O aumento em nossos números é uma conseqüência agregada de atitudes pessoais a respeito do sexo e procriação - temas dos mais privados. Mudanças significativas nesta frente é um tipo fundamental de mudança cultural e, sob o ponto de visto comum, não é algo que possa ocorrer rapidamente. Nas sociedades que valorizam grandes famílias, pode-se esperar que o tamanho ideal da família se reduza, mas apenas gradualmente.


Seguramente este ponto de vista tem forte apoio comprobatório. O precedente básico para tal mudança é a transição demográfica européia, um acontecimento complexo onde a melhoria do saneamento, nutrição, educação e os padrões gerais de vida acompanharam declínios na mortalidade infantil e na quantidade média de partos por mulher (conhecida como taxa de fertilidade total ou TFT). A transição demográfica européia levou mais de 100 anos. No final do Século XIX a TFT continental situava-se em torno de 4 ou 5; atualmente, a média continental caiu abaixo da "taxa de reposição" de 2,1. (A longo prazo, uma população que mantenha uma TFT de 2,1 se estabilizará: o número de nascimentos se tornará igual ao número de mortes.)


Para os demógrafos, a lição da experiência européia era clara: o declínio até a taxa de reposição é gradual porque as mudanças sociais necessárias são complicadas, dispendiosas e lentas no seu amadurecimento. Mas, no final dos anos 80, os especialistas começaram a perceber um padrão que não se encaixava no precedente europeu. Vários países do Leste da Ásia estavam passando pela transição "clássica" (ou seja, TFTs declinantes e padrões de vida crescentes), porém dentro de um espaço de tempo radicalmente comprimido. Na Indonésia, Japão, Cingapura, Coréia do Sul, Taiwan e Tailândia, as TFTs estavam em queda pelo menos desde os anos 60; atualmente, todos esses países atingiram a taxa de reposição, ou em breve o farão. Suas transições, a maioria das quais levou apenas 25-30 anos, são atribuídas ao rápido crescimento econômico aliado a vários avanços técnicos e administrativos, principalmente programas bem-desenvolvidos de planejamento familiar e melhorias substanciais na saúde e educação.


Entretanto, os demógrafos não viram nessas transições motivos para maiores revisões no projeto populacional global. Nem, em retrospecto, deveriam: a população mundial quase quadruplicou ao longo do Século XX, e embora seja verdade que os TFTs dos países industrializados hoje sejam, em média, 1,6, a grande maioria da humanidade não vive em regiões prováveis de passarem por transições demográficas clássicas, aceleradas ou não. A Coréia do Sul não é modelo para a Índia, China ou Nigéria. Assim, já na primeira metade dos anos 90, as estimativas comuns estabeleciam que a população global estava aumentando num ritmo de 86-90 milhões por ano, e continuaria a crescer neste ritmo por muitos anos. Por exemplo, o relatório da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994, citou projeções atuais da ONU para sua estimativa que "incrementos populacionais anuais provavelmente se manterão próximos a 90 milhões até o ano 2015."


A grande maioria da humanidade não vive em regiões prováveis de passarem por transições demográficas clássicas.


Todavia, mais uma vez, as expectativas razoáveis sofreram o ataque de mudanças imprevistas. Oito anos após a conferência do Cairo, o incremento do aumento populacional anual está agora estimado em torno de 77 milhões. Este número menor resulta, em parte, de um tipo de reformulação contábil: os demógrafos hoje acham que o incremento anual na ocasião da conferência do Cairo era provavelmente cerca de 81 milhões, e não 86-90 milhões. Mas, acredita-se que o saldo reflita um declínio real do incremento da ordem de 4 milhões de pessoas. (Observe-se que a população como um todo ainda está aumentando; o declínio está no número de pessoas acrescidas a ela a cada ano.) Esta queda no incremento assinala uma nova tendência. Até o início dos anos 90, o incremento estava crescendo; hoje está em declínio e este declínio está projetado a continuar.


A nova tendência é conseqüência de dois acontecimentos inesperados, um dos quais é uma má notícia: o total de mortes causadas pela AIDS já atinge hoje um volume que afeta as estatísticas populacionais globais. Mas o motivo principal do declínio não é o aumento de mortes, e sim menos nascimentos. Em cerca de uma dezena de países populosos em desenvolvimento, as TFTs caíram substancialmente, mesmo sem melhorias significativas nos padrões de vida. O Irã, por exemplo, reduziu sua TFT de 5,6 em 1985, para 2,0 em 2000, apesar de uma longa e debilitante guerra com o Iraque, entre 1980 e 1988, estagnação econômica e a hostilidade inicial do governo revolucionário ao controle da natalidade - uma postura que foi revertida em 1989.


A agricultura orgânica é hoje o setor de maior crescimento da economia agrícola mundial


Mesmo onde os declínios ainda não trouxeram a TFT para o nível de reposição, eles são, não obstante, impressionantes. Por exemplo, Bangladesh, um país extremamente pobre, viu sua TFT declinar de 7 nos anos 70, para 3,3, entre 1996 e 2000. Nem Bangladesh ou o Irã obteve grandes melhorias em seus padrões de vida, mas ambos compartilham um importante quadro social: ambos conseguiram desenvolver programas extensos de planejamento familiar que gozam de forte apoio oficial e ampla aceitação popular.


Um exemplo mais amplo desta mudança pode ser encontrado na América Latina e no Caribe, uma região que hoje tem uma TFT global de cerca de 2,5, abaixo da média de 6,0 na primeira metade dos anos 60. Não é surpresa que aqui, também, a queda da TFT freqüentemente se relacione com uma maior disponibilidade de serviços de planejamento familiar, particularmente o uso de anticoncepcionais. O que é de certa forma surpreendente, por outro lado, é que a tendência seja visível, mesmo em alguns dos países mais pobres da região - Peru, por exemplo. No Índice de Desenvolvimento Humano de 2002, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Peru está classificado em 8o lugar entre os 12 países sul-americanos, entretanto esta nação viu sua taxa de uso de anticoncepcionais elevar-se de aproximadamente 40 porcento das mulheres casadas, no final dos anos 70, para 64 porcento, em 1996. O TFT do Peru caiu de mais de 5 para 3, durante o mesmo período.


Naturalmente, essas "transições a preço módico" já estavam em andamento na ocasião da conferência do Cairo. E, de certa forma, visíveis. Mas eram muito difíceis de serem percebidos porque o padrão não foi reconhecido.


Será que esses vários declínios da TFT significam que o crescimento populacional logo deixará de ser um grande problema social e ambiental? Dificilmente. Na realidade, as projeções médias das Nações Unidas para o crescimento populacional global foram recentemente aumentadas ligeiramente. As projeções médias são freqüentemente consideradas como o melhor indicador da direção das tendências populacionais. (Vide Capítulo 3.) Há várias formas pelas quais as TFTs atuais se fatoram nessas projeções. Primeiramente, se tratam de países basicamente da África sub-saariana onde as TFTs continuam altas e onde os demógrafos não prevêem declínios significativos no futuro próximo. Também, em países populosos, até mesmo TFTs "moderados" podem produzir aumentos gigantescos no tamanho da população. A Índia é, de longe, o exemplo mais dramático disto: com uma população de pouco mais de 1 bilhão e uma TFT de 3,2, sua população aumenta em 17,6 milhões de pessoas ao ano. Nem é inevitável que TFTs "moderadas" continuem simplesmente em queda constante: infelizmente, durante os últimos anos, houve uma desaceleração no declínio da TFT em vários países de alta densidade demográfica, inclusive Bangladesh, Índia e Nigéria. E mesmo após o TFT de um país cair abaixo da taxa de reposição, sua população pode continuar a expandir durante décadas - um fenômeno conhecido como "ímpeto populacional." A China, por exemplo, tem um TFT de apenas 1,8, mas sua população de quase 1,3 bilhão ainda aumenta a uma taxa de 11,5 milhões por ano.


O ímpeto populacional é mais fácil de entender se pensarmos em termos da estrutura etária da população. Sociedades que recentemente atingiram a taxa de reposição tendem a ser desproporcionalmente jovens: geralmente há muitos jovens e muito menos idosos. Uma vez que a maioria das mortes ocorre entre os idosos, não há inicialmente mortes suficientes para compensar os nascimentos, mesmo com uma TFT de 2,1. As mortes compensatórias ocorrem mais tarde, à medida que o inchaço demográfico jovem se desloca para a meia-idade e além. Enquanto isto, a população continua a crescer. Em geral, a TFT do mundo em desenvolvimento encontra-se hoje um pouco abaixo de 3, cerca da metade do que era em 1970. A projeção atual da TFT dos países em desenvolvimento indica uma taxa média de 2,17 para 2050.


Essas transições demográficas inesperadas não dão motivos para complacência, mas proporcionam alguma esperança. Não estamos inevitavelmente fadados ao pior cenário demográfico - uma distopia planetária, apinhada e desnaturada, de guerra, pobreza e doença.


Há esperança também em muitas outras áreas - em projetos de base ampla, embora freqüentemente só parcialmente realizados, e que ainda não estão plenamente integrados à visão mundial predominante. Essas mudanças podem ser percebidas, por exemplo, na agricultura orgânica, que é hoje o setor de maior crescimento da economia agrícola mundial e que poderá revigorar comunidades rurais em países tão diversificados como Filipinas, Suécia e Estados Unidos. Podem ser percebidas nas tecnologias de energia renovável, onde avanços técnicos acelerados e custos declinantes de produção estão incrementando a capacidade de geração eólica e fotovoltaica à ordem de 25 porcento ao ano, ou mais. (Vide Capítulo 5.)


Pode haver esperança até para aquela causa mais famosa e de menor sucesso da agenda ambiental: a conservação da natureza tropical. O parque - um conceito freqüentemente detratado como politicamente irrealista em grande parte dos trópicos - vem calmamente provando seu valor ao longo das últimas décadas. Os parques contêm quase tudo que resta da natureza em escala majestosa em Cuba, República Dominicana, Gana, Índia, Madagascar, Filipinas, África do Sul e Tailândia; eles contêm a maioria do que resta em muitos outros países latino-americanos, africanos e asiáticos. Grandes investimentos nesta abordagem simples - essencialmente destacando áreas naturais - são tão cruciais para o bem-estar do planeta como os investimentos em energia renovável ou planejamento familiar.


Cerca de 50.000 anos após a inovação ter se tornado um traço humano, vivemos num mundo que é cada vez mais do nosso feitio. Mas não é menos misterioso e desafiador do que o mundo habitado por aqueles inovadores da Idade da Pedra. Sob muitos aspectos, a distância entre eles e nós é tão gigantesca que seria quase impossível medi-la. Nossas tecnologias e conscientização social dificilmente teriam um paralelo em sua cultura. Todavia, sob certos aspectos fundamentais, nossas lutas ecoam as suas. Nós, também, dependemos das conquistas tecnológicas para catalisar mudanças culturais. Nós também temos o hábito de criar "dividendos solutivos." E quem sabe? Talvez daqui a 50.000 anos nossos descendentes distantes se indagarão como conseguimos ampliar seu mundo em modos que nós mesmos não poderíamos ter imaginado.

*Chris Bright é pesquisador sênior do WWI-Worldwatch Institute / UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica. Este texto é o primeiro capítulo do relatório Estado do Mundo 2003 e foi publicado originalmente em www.wwiuma.org.br.

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