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Cidadania multimídia

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor








Um laboratório de experiências em TV, rádio, vídeo, fotografia, webdesign e outras ferramentas da comunicação disponível, gratuitamente, para alunos de escolas públicas de Salvador, Bahia. É isso e muito mais que proporciona a organização não-governamental Cipó - Comunicação Interativa, que busca promover ações de educação e de mobilização social, através do aprendizado e utilização de tecnologias da comunicação. O principal objetivo da ONG é assegurar os direitos fundamentais e ampliar as oportunidades de inserção qualificada de crianças, adolescentes e jovens na sociedade. Nas suas atividades, a Cipó conta com mais de 20 mil participantes, de 13 a 24 anos, por ano.


O desafio de criar uma ONG tendo como eixo fundamental a educação através da comunicação foi assumido por duas profissionais, que já desenvolviam iniciativas nessa área, voltadas para adolescentes e jovens. A jornalista Anna Penido, diretora executiva da Cipó, conta que, juntamente com a cineasta e uma das coordenadoras da ONG, Mari Travassos, convidou outros profissionais da área para se engajarem nesta empreitada. Assim surgiu, em 1999, a organização, que com o tempo ganhou o reconhecimento e o apoio de outras instituições. Hoje, uma equipe multidisciplinar das áreas de comunicação, psicologia, pedagogia, assistência social e artes plásticas, atuam em oito projetos, que se somam para garantir a realização dos objetivos da entidade.


Entre os projetos realizados diretamente com os adolescentes, tem o Estúdio Cipó de Multimeios, que oferece oficinas de fotografia, vídeo, artes gráficas e webdesign. Nele, produz-se material educativo, para ser distribuído para escolas e organizações sociais, junto com manuais que orientam a sua utilização. Através do projeto Cibersolidário, o Cipó monta nas escolas espaços de acesso gratuito a computadores e Internet. Já o projeto Escola Interativa pretende minimizar o problema da falta de capacitação de professores da rede pública de ensino de Salvador, no uso de tecnologias da comunicação. "Tem escolas que estão equipadas com computadores, vídeo etc., mas os professores não sabem utilizá-los", diz a diretora da Cipó. Para despertar o interesse de alunos e professores pelos projetos, a Cipó vai até as escolas públicas para divulgar o seu trabalho.


Em parceria com a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), a Cipó realiza também um trabalho de conscientização da mídia. Primeira integrante da Rede Andi, a Cipó, através da Central Cipó de Notícias (CCN), deu início à estratégia da Andi de regionalizar as suas ações. À Cipó e a mais sete organizações, de outros estados, foi repassada a metodologia da Andi, de análise da mídia e capacitação de profissionais de comunicação. O objetivo é ampliar a quantidade e a qualidade da cobertura jornalística sobre temas relativos aos direitos da infância e da adolescência.


Para as instituições sociais, existe a Cipó Produções, que presta serviços e orienta sobre a utilização de estratégias e recursos da comunicação. O projeto auxilia outras ONGs a ampliarem a visibilidade das ações e a gerarem recursos para a sustentabilidade.


Em quatro anos de atuação, a Cipó criou um espaço considerável para atender à grande demanda da comunidade pelo acesso e conhecimento das tecnologias de comunicação. Anna diz que o trabalho da Cipó se constitui, hoje, em um verdadeiro laboratório pedagógico e de intervenção social. Entre alguns dos resultados, Anna cita que o jornais estão mais sensíveis, responsáveis e com mais fundamentação teórica para a cobertura de assuntos relativos à infância e adolescência. E as escolas, por sua vez, aproveitam melhor as tecnologias da comunicação para poderem interagir com os alunos.


A transformação mais importante, porém, é em relação à atitude pessoal e social dos jovens. De acordo com a diretora da Cipó, é possível constatar nos participantes dos projetos o desenvolvimento de características como responsabilidade, iniciativa e liderança. Outra coisa melhorada é o repertório cultural dos jovens, melhoria essa estimulada pela Cipó com a viabilização de idas a cinemas, museus, teatros e exposições. Segundo Anna, isso contribui para a ampliação da visão de mundo, do espírito crítico, da sensibilidade e da solidariedade dos jovens.


Portanto, além de adquirirem habilidade técnica para enfrentar o mercado do trabalho e aprenderem a expressar melhor suas idéias, os jovens se tornam mais conscientes de si e do mundo em que vivem. "O aprendizado não é apenas técnico. Nós incentivamos o jovem a construir o seu projeto de vida, a buscar aprender cada vez mais e a participar ativamente da sua comunidade", afirma.


Este ano, a Cipó encara um novo desafio: a organização da rede nacional de jovens que vai atuar em conjunto com a Rede Nossas Crianças, coordenada pela Fundação Abrinq. No papel de "olheiros", os jovens vão ajudar a Rede no trabalho de acompanhamento dos indicadores sociais nas suas comunidades e no monitoramento, formulação e sugestão de políticas públicas na área da infância e da juventude.


A intervenção na elaboração e implementação de políticas públicas é, aliás, é, em última instância, o grande objetivo da Cipó, na disseminação de suas experiências. "Todos os anos conseguimos realizar alguns sonhos. Esperamos que, no futuro, tudo o que fazemos de forma laboratorial possa ser incorporado sob forma de políticas públicas e implementado nas escolas", sonha a diretora.


 

Mariana Loiola

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