Autor original: Marcelo Medeiros
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No Brasil, 40 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e o índice de desperdício do líquido chega a 40% da produção, devido a problemas na tubulação, ligações clandestinas e mau uso. Para piorar, 70% das internações hospitalares no país são provocadas por doenças transmitidas por água contaminada – o que gera um gasto de US$ 2 bilhões no sistema de saúde. E são poucas as ações para reverter esse quadro.
As constatações são de um estudo coordenado pelo WWF, que lançou em 5 de junho uma campanha pela proteção das águas brasileiras. Intitulada “Água Para a Vida, Água Para Todos”, a iniciativa pretende mudar a visão da sociedade em relação a este recurso natural. A idéia é mostrar para as pessoas que a água não é apenas um produto a ser consumido, mas algo essencial para a vida. A campanha tem duração prevista de quatro anos e já começou no Distrito Federal. Em breve será estendida a todas as regiões.
No dia do lançamento, uma carta foi entregue em Brasília ao presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, ao presidente do Senado, José Sarney, e à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O documento traz propostas de ações a serem tomadas pelo poder público para frear a degradação de fontes de água e dar novo tratamento a este bem no Brasil, onde estão 15% das reservas doces mundiais. Entre elas estão o entendimento da água como fonte de desenvolvimento, fortalecimento da participação da sociedade civil na gestão de recursos hídricos, priorizar o combate ao desperdício, proteger mananciais e implementar os compromissos assumidos na Cúpula de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Joanesburgo, em 2002.
As atividades começam pelo Distrito Federal devido à urgência da situação. Estudo feito pela organização ambientalista mostra que a região deve ter problemas de abastecimento nos próximos seis ou sete anos, pois 37% da vegetação do cerrado (bioma predominante na região) já perdeu sua cobertura original. Isso prejudica os mananciais ao diminuir a permeabilidade do solo e trazer poluição para o leito dos rios. O resultado é que boa parte das bacias hidrográficas da área encontra-se em estado de alerta, por sua degradação. Os cursos de água têm pouca vazão, pois estão localizados em áreas de cabeceiras de rios e qualquer ataque ao ecossistema os prejudica bastante.
Além disso, Brasília foi projetada para 500 mil pessoas e hoje já abriga 2,3 milhões. Uma outra pesquisa, feita pelo Ibope para o WWF, mostra que a população está consciente do problema da água, mas os maiores consumidores não estão muito dispostos a mudar seus hábitos.
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O desperdício é citado por 33% dos 600 entrevistados como o problema mais grave ligado à água do Distrito Federal, mas 91% estão dispostos a reduzir o consumo para evitar um colapso no sistema e preservar o meio ambiente. Quase o mesmo número (90%) se dispõe a não jogar mais lixo em ruas, rios e córregos. Há ainda interesse de 85% do universo pesquisado em participar de campanhas, abaixo-assinados ou realizar trabalho voluntário para proteger a água. Entretanto são os entrevistados mais ricos, aqueles que possuem mais informação sobre as conseqüências do mau uso dos recursos naturais, os menos dispostos a mudar seus hábitos, que são os mais esbanjadores. "O mais difícil é a mudança de comportamento, e a ação individual é muito importante quando acontece em grande escala", diz Samuel Barrêto, coordenador da campanha.
A Organização das Nações Unidas (ONU) considera adequado o consumo diário de 200 litros de água por pessoa. Nas regiões mais nobres da capital federal, essa taxa chega a mil litros por dia, enquanto nas mais pobres, algumas vezes, não atinge nem a metade da recomendação da ONU.
Dada a disposição geral para mudar a situação, o WWF já está promovendo campanhas educativas. Performances teatrais estão sendo encenadas nas ruas, a fim de conscientizar a população. Ao final delas, distribuem-se adesivos com dicas de economia de água. Uma das dicas, seguida por boa parte dos entrevistados na pesquisa da organização, é bem simples: fechar a torneira ao passar sabão na louça. Essa atitude economiza, em média, 70 litros de água por lavagem. Além disso, escolas e comunidades de baixa renda receberão 40 mil kits educativos. O material estará disponível na página da organização (ver link ao lado).
Não basta, porém, a população colaborar. A irrigação da agricultura consome 60% da água produzida no país e também colabora no desperdício. O WWF pretende cobrar das autoridades medidas para diminuir o volume desperdiçado. Algumas atitudes foram especificadas na carta entregue no dia 5. Mas as reivindicações vão além. A campanha pede a implementação imediata da Política Nacional de Recursos Hídricos e seus instrumentos, como a cobrança pela retirada e despejo da água nas fontes e o fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que são abertos à participação da sociedade civil.
"Os instrumentos econômicos devem ser implementados o mais rápido possível. No fim das contas, sai mais caro poluir do que preservar", diz Barrêto. Segundo ele, com as cobranças, empresas começarão a instalar estações de tratamento para cuidar da água que utilizam e despejam nos rios.
O documento final do estudo do WWF sobre as bacias hidrográficas do Distrito Federal traz recomendações para que os ecossistemas sejam preservados. Entre elas estão o controle da expansão urbana e rural nas zonas de preservação ambiental e o incentivo à agricultura sustentável e orgânica. Estudos semelhantes devem ser publicados para cada região onde a campanha aportar.
No lançamento da campanha, no dia 5 de junho, uma faixa de 30 metros de comprimento foi estendida na torre de TV de Brasília, ponto mais alto da cidade. Segundo a organização, ela simula uma cachoeira e irá viajar por várias cidades onde a campanha for lançada. Como foi dito no lançamento, o país do Fome Zero agora tem que ter também o programa Sede Zero.
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