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De acordo, contra a violência

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Não é apenas a vítima a única prejudicada numa situação de violência doméstica. As conseqüências podem ser graves para todos os membros da família: problemas de saúde, como alcoolismo e depressão, e a reprodução da violência pelos filhos no ambiente social ou em suas relações amorosas são algumas delas. É com base nesta constatação que a ONG Pró-Mulher, Família e Cidadania adotou o método de Mediação de Conflitos, e as experiências vividas pela equipe são relatadas em um livro pronto para ser lançado.

Ainda pouco difundido no Brasil, o método de Mediação de Conflitos foi criado na Universidade de Harvard e trazido para o Brasil pela psicanalista Malvina Ester Muszkat, presidente da Pró-Mulher, Família e Cidadania. Segundo Malvina, o método é bastante utilizado nos Estados Unidos e na Europa, em diversos campos da vida humana e em instituições e empresas. A metodologia consiste em superar relacionamentos regidos pelo confronto, usando a lógica de pacto (através do diálogo), para resgatar a integridade emocional e social das partes em conflito. Para atender os seus objetivos, a Pró-mulher adaptou o método, a fim de ajudar a prevenir e reduzir a violência entre população de baixa renda no Brasil e os seus efeitos sociais.

Fundada em 1977, a Pró-Mulher se dedicava exclusivamente a dar assistência jurídica às mulheres vítimas da violência doméstica. A partir de 1993, passou a atender também a pessoa que agride (seja homem ou mulher) - levando em consideração que, quando ocorre violência na família, não existe apenas uma vítima, pois todos os membros envolvidos são prejudicados, inclusive o agressor. Até então, o atendimento não se mostrava satisfatório, devido ao grande índice de abandono dos processos e evasão. "Observamos que as mulheres queriam mais resgatar a dignidade junto aos seus companheiros do que vê-los presos. Elas faziam queixa e retiravam-na logo depois; se separavam e voltavam", conta Malvina. A conseqüência disso era a reincidência da violência. "Vimos que era inútil atender só uma das partes".

Com a adoção do método de Mediação de Conflitos, o trabalho da instituição passou a ser voltado para toda a família, e a requerer uma equipe interdisciplinar - com profissionais de psicologia, psicanálise, direito e assistência social. Os resultados apareceram na queda dos números de desistências e de reincidências. Segundo a psicanalista, a intenção não é preservar relações. "Não trabalhamos para promover reconciliação, mas para resolver conflitos, de forma pacífica e com o mínimo de prejuízos para as partes envolvidas", afirma.

Através dessa metodologia, a Pró-Mulher já atendeu mais de sete mil casos, nos últimos dez anos, e recebe em média cerca de 50 novas famílias por mês. O atendimento é gratuito e é oferecido a moradores do município de São Paulo, com renda familiar de no máximo cinco salários mínimos mensais. Para realizar esse trabalho, a organização recebe apoio da Secretaria dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo e da Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Ao receber a queixa de uma das partes envolvidas na situação de violência, a Pró-Mulher convida a sua contraparte. Antes do contato para o estabelecimento de acordos, homens e mulheres (vítimas e/ou agressores) se preparam em grupos separados de reflexão, em que são discutidas formas brandas de resolução de conflitos, relações de gênero, violência e família, entre outros assuntos. Depois de algumas sessões, os casais são convidados a participar de uma discussão mediada por psicólogos ou advogados. "Não é terapia", ressalta Malvina, se referindo ao método. Os recursos jurídicos só são acionados quando há uma situação de urgência, violência brutal e/ou patologia, e a mediação não é possível.

A idéia não é ser pontual e adotar uma atitude assistencialista ou autoritária e, sim, fazer as pessoas refletirem sobre as suas ações e conseqüências, com base em princípios de autonomia e eqüidade. Dessa forma, quando estiverem frente a frente, elas têm mais condições de encontrar melhores soluções para ambos. "Algumas mulheres admitem que permitem a violência e alguns homens reconhecem que querem demonstrar poder", diz a psicanalista. Assim, homens e mulheres podem se dar conta de que a situação de violência não é boa para ninguém, inclusive para os filhos.

O livro Mediação de Conflitos - Pacificando e prevenindo a violência (que será lançado pela editora Summus no dia 5 de agosto) contém relatos dos profissionais da Pró-Mulher e mostra como a metodologia de Mediação de Conflitos pode ser eficiente para diminuir a violência familiar e na sociedade.

Para quem tem interesse em aprender e replicar a metodologia em outras instituições, a Pró-Mulher oferece cursos de capacitação em diversas áreas. Informações sobre os treinamentos e o trabalho da Pró-Mulher, Família e Cidadania podem ser obtidas pelo telefone (11) 3812-4888 ou pelo correio eletrônico promfc@uol.com.br.

 

 

Mariana Loiola

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