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História e perspectiva

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

As pessoas atingidas por barragens começaram a se organizar na década de 70 no Rio Grande do Sul e em alguns estados das regiões nordeste e norte. Naquela época, eram inauguradas grandes obras e outras eram anunciadas. No nordeste, a construção da usina de Sobradinho, no rio São Francisco, deslocou 70 mil pessoas. No sul, em 1978 começaram as obras de Itaipu, na bacia do rio Paraná, e foram previstas as hidrelétricas de Machadinho e Itá, no Rio Uruguai. Na mesma época, trabalhadores rurais se organizaram para garantir seus direitos no processo de construção da usina de Tucuruí, que obrigou 40 mil famílias a mudarem de endereço. Por causa dessas grandes obras, 93% da energia produzida no país vem de hidrelétricas.


Com o alagamento de imensas áreas, ecossistemas foram destruídos e muitas famílias perderam suas terras. Hoje a maioria ainda espera pela assistência prometida – isso quando as pessoas já não desistiram e rumaram para grandes cidades.


O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) só adquiriu caráter nacional unificado em 1991, quando foi realizado o I Congresso Nacional de Atingidos por Barragens, que marcou a fundação do MAB. Antes havia organizações regionais independentes, apesar de articuladas, que dois anos antes tinham se reunido em um encontro nacional. Desde 1991, portanto, as bandeiras são unificadas, mas cada região tem autonomia para agir da maneira que achar melhor.


Dados do movimento apontam a existência de duas mil barragens ocupando 34 milhões de hectares, de onde foram deslocadas um milhão de pessoas. O Comitê Mundial de Barragens estima a existência de 40 a 80 milhões de indivíduos ao redor do mundo obrigados a se mudar por causa da construção de usinas hidrelétricas. De acordo com líderes do MAB, há hoje aproximadamente 100 mil famílias organizadas, o que o torna um dos maiores movimentos sociais do país. Como comparação, basta ver que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tinha, em 2001, 108 mil famílias assentadas. Hoje o MAB está organizado em 17 estados (GO, DF, RS, SC, PR, SP, MT, RJ, MG, TO, PA, CE, MA, SE, PB, BA e RO).


O MAB, porém, não tem tanta visibilidade quanto os movimentos que lutam pela reforma agrária no Brasil. Para Sadi Baron, coordenador nacional e militante em Santa Catarina, isso se deve à recente unificação das ações e pelo fato do movimento por muito tempo “não ter batido no modelo energético”, ou seja, não ter feito críticas mais veementes. Mas, com a perspectiva de novos projetos hidrelétricos serem inaugurados e novas pessoas serem deslocadas de suas terras sem receber ajuda, Baron prevê: “O MAB será um grande movimento social daqui a dois ou três anos”.


 


Marcelo Medeiros

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