Lixo: um problema para o meio rural

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Artigos de opinião

Márcia de Góes Soares*

O lixo é um dos problemas mais debatidos na questão ambiental atualmente. As grandes cidades já não têm espaço suficiente para os dejetos que a população joga fora todos os dias. Reciclagem e construção de novas usinas de lixo são soluções possíveis para um problema que há tempos atormenta os governos das metrópoles brasileiras. No entanto, para quem acha que essa é uma preocupação restrita às áreas urbanas, o problema já ultrapassou suas fronteiras. Agora é o meio rural que sofre ­ e muito ­ com a questão do lixo.

Trabalhando com diagnóstico participativo no desenvolvimento de comunidades rurais, pude verificar o quanto o problema do lixo está cada vez mais presente na família rural. Contaminação por agrotóxicos, ingestão de plásticos e outros tipos de dejetos por animais e poluição de córregos e rios com diversos materiais são algumas das maiores queixas do habitante do campo.

Há alguns anos, a família rural cultivava quase todos os alimentos que consumia. Com a modernização da agricultura no país, alguns alimentos foram substituídos por outras culturas que traziam maior poder econômico para essas famílias. A chegada do produto industrializado ao campo ­ incentivada pelos meios de comunicação de massa como a TV e o rádio ­ também produziu um novo tipo de lixo para a região: o lixo industrializado. Um tipo diferente daquele com que a família rural estava acostumada. São materiais de difícil decomposição (embalagens plásticas e longa vida, entre outros) diferentes dos restos de alimentos e de culturas (cascas, folhas secas ou bagaços) que eram deixados sobre o solo e se transformavam em adubos naturais e das poucas embalagens de papel que vinham nos poucos produtos que a família comprava. Além disso, o uso excessivo e desordenado de adubos químicos e de agrotóxicos fez com que o "lixo químico" também fizesse parte do meio rural, algo que até então era um problema restrito às grandes cidades.

Diante disso, como trabalhar a questão do lixo em uma região que, muitas vezes, nem sequer percebe a gravidade do problema? Primeiro é necessário conscientizar a população rural de que esse novo tipo de lixo traz graves conseqüências para o convívio familiar e precisa ser trabalhado com bastante planejamento e urgência. A diversificação da produção de alimentos para o consumo familiar, o incentivo ao consumo de produtos "in natura" (de preferência sem agrotóxicos), a organização da comunidade para a reciclagem dos materiais e até a comercialização dos mesmos podem ser algumas das ações de combate a um problema que vem crescendo no interior do país e que é pouco debatido nos fóruns de ecologia e na comunidade especializada.

Não se pode acreditar que a coleta seletiva e a reciclagem resolvem todos os problemas. Ela colabora, mas a maior mudança acontece na relação de consumo das pessoas. O incentivo ao consumo de produtos "in natura" (que pode ser feito inclusive com a população urbana) é comprovadamente mais saudável e fortalece a agricultura familiar na região, principalmente em pequenos municípios de base econômica agrícola que têm dificuldades em dar um destino adequado ao lixo produzido.

O importante é fomentar a educação ambiental nas comunidades rurais para que o habitante do campo possa lidar com a questão do lixo da forma mais consciente possível. Desse modo, tudo pode ser bem mais eficaz se os órgãos públicos (e não apenas as ONGs) fizessem a sua parte. Incentivar ações que tratem melhor a questão do lixo no meio rural é um compromisso de todos nós, pois o lixo atinge o homem da cidade e, agora, o homem do campo. Temos de unir forças para enfrentar com seriedade um problema que já afeta milhões de brasileiros.

*Márcia de Góes Soares é agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG), consultora em Agroecologia e Desenvolvimento Local Sustentável, na região norte do Espírito Santo.