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Cidadania na jovem rede

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor






A juventude de Belo Horizonte, em Minas Gerais, ganhou um espaço de manifestação cultural que deverá ultrapassar os limites da cidade. Trata-se da Rede Jovem de Cidadania, projeto realizado pela Associação Imagem Comunitária (AIC), com patrocínio da Petrobrás. Os primeiros resultados foram lançados no último dia 30. O projeto, que começou a ser desenvolvido - embrionariamente - em fevereiro de 2000, envolve a implantação de uma rede de comunicação comunitária, formada por rádio, TV, Internet, mídia impressa e agência de notícias. O objetivo é valorizar, difundir e debater questões relacionadas ao protagonismo juvenil e oo trabalho de iniciativas de promoção da cidadania e da cultura.

De acordo com Juliana Leonel, produtora executiva da AIC, a Rede possibilitará a criação de um espaço na mídia para a cultura jovem que não é veiculada pelos meios de comunicação de massa. "Quando a grande mídia mostra a periferia, geralmente é para falar de violência", diz. Além dos problemas vividos em bairros e comunidades, projetos culturais, de educação e cidadania também terão visibilidade através da Rede. E o que é melhor: toda a informação é produzida pelos próprios adolescentes.

A Rede de Jovem de Cidadania é a concretização de um trabalho que começou há sete anos. Embora a AIC tenha sido fundada em 1997, os profissionais que integram hoje a equipe trabalham juntos desde 1993. Desde então, eles realizam projetos sociais junto aos jovens da periferia de Belo Horizonte, inclusive projetos de mídia comunitária. Para selecionar os adolescentes que atuam como correspondentes da Rede, a AIC procurou aqueles que já haviam participado desses projetos. A Rede retoma então o trabalho realizado com aqueles jovens e dá continuidade aos projetos pontuais desenvolvidos anteriormente pela equipe.

Os primeiros meses de atividade do projeto serviram para sensibilizar os adolescentes sobre a informação veiculada por mídia. Divididos em núcleos nas nove regiões de Belo Horizonte (Barreiro, Venda Nova, Nordeste, Noroeste, Leste, Pampulha, Centro-Sul, Norte e Oeste), 54 adolescentes, entre 15 e 18 anos, atuam como correspondentes em sua região. Todo o trabalho – roteiros, reuniões de pauta e produção dos programas - é feito pelos adolescentes durante as oficinas de rádio, TV, jornal impresso e Internet, que são oferecidas pela AIC. Eles também se preparam para serem monitores e multiplicadores do projeto. A idéia é que cada um indique e traga outro jovem de sua comunidade para participar da Rede, e ajude na formação de outros correspondentes. A AIC acredita que, até o final do ano, a Rede contará com a participação de cerca de 180 jovens.







As escolhas de pauta de cada mídia são bastante variadas, mas, segundo a produtora, existe uma intenção de que elas sejam interligadas. Às vezes, uma matéria para o jornal complementa uma outra que foi veiculada pela TV, por exemplo. "Já que o propósito é formar uma rede, fazemos com que uma mídia converse com outra", diz Juliana. O conteúdo que circula nas mídias inclui desde dicas de como o adolescente pode se integrar ao circuito cultural da cidade, até oportunidades de educação e trabalho, informações básicas sobre direitos, saúde preventiva e qualidade de vida.

Além das oficinas, os jovens também estão realizando um mapeamento de instituições e projetos que promovem a cidadania em suas comunidades. O mapeamento servirá para alimentar a Agência de Notícias da Rede Jovem de Cidadania, que pretende enriquecer a pauta dos jornalistas dos grandes veículos, com notícias sobre atividades e acontecimentos associados aos jovens nas comunidades de Belo Horizonte. A Agência, que deve entrar em atividade em setembro, enviará boletins semanais para redações de jornais, telejornais e noticiários radiofônicos locais e nacionais.

Segundo Juliana, o projeto da Rede Jovem de Cidadania não tem caráter de geração de renda ou de formação profissional, mas pode contribuir para que os jovens se tornem agentes de mudanças sociais em suas comunidades e exerçam mais o seu poder de cidadão.

O que não se pode negar é que os jovens se tornam mais ativos. Egídio Canuto, de14 anos, correspondente da Rede Jovem de Cidadania, conta que chega "morto" em casa, mas tem vontade de produzir cada vez mais. "Eu era viciado em televisão, agora eu faço televisão. Aqui na Rede eu aprendi a correr atrás das coisas e a me expressar melhor. Até o meu português melhorou. Agora nem tenho muito mais tempo para ver TV", conta, entusiasmado.

Ao identificar elementos relativos à sua comunidade, levantar discussões de temas que fazem parte do cotidiano do adolescente e divulgar essas informações através da Rede, os jovens estão apresentando para um público maior o seu universo e a sua forma de ver e viver na cidade. Com essa iniciativa, a AIC espera contribuir para a construção de uma auto-imagem positiva dos jovens e estimular novas experiências de mobilização e articulação entre eles. Yolanda Soares, de 15 anos, já está sentindo o impacto desse trabalho. Ela realiza trabalhos comunitários há quatro anos em sua comunidade, mas via que, até então, os projetos em que atuava não tinham nenhuma repercussão. "O que eu fazia ficava conhecido só na minha região. Agora dá mostrar para todo mundo o que é feito lá", diz.

Quem quiser saber mais sobre a Rede, divulgar algum projeto social, cultural, ou outra informação que possa interessar aos jovens de Belo Horizonte, pode entrar em contato pelo telefone (31) 3224-3463 ou pelo correio eletrônico aic@aic.org.br. Mais informações em www.aic.org.br.


Mariana Loiola

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