Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Em 1997, crianças e adolescentes em situação de risco social abrigadas no Lar Dona Cotinha, em São Paulo, começavam a ter aulas de música como parte de sua educação. Começava a nascer o projeto CD para Viver. Seis anos depois, cinco deles formaram uma banda e hoje procuram ajuda para vender o disco gravado este ano e, assim, ajudar não só o abrigo onde moraram – e onde quatro ainda vivem,- como também outras instituições de auxílio que passam por dificuldades financeiras.
Recolhidos nas ruas da capital e de outras cidades ou enviados para o lar por Conselhos Tutelares devido a problemas familiares, eles começaram fazendo “batucada” (termo utilizado pelos próprios integrantes), por causa da falta de instrumentos na oficina de música. Hoje já sabem tocar guitarra, violão, baixo e bateria, além de compor suas melodias e letras na banda, que foi batizada de “Vagando em Versos”.
O aprendizado, porém, não foi fácil. Cheios de problemas, chegavam ao lar Dona Cotinha, na Mooca, zona leste paulistana, revoltados, nervosos, ansiosos para sair o mais rápido possível. Uns por saudade dos parentes, outros por gostarem da liberdade da rua. Alguns deles, ainda muito novos, recém-saídos da infância, já tinham usavam drogas e tinham familiaridade com a violência das ruas. Até rebelião já tentaram fazer. Isso tornava sua reintegração social difícil, porém as atividades oferecidas no Lar começaram a facilitar o trabalho.
Uma delas é a oficina de música ministrada por Agnaldo Silva. Funcionário de marketing de uma empresa paulistana, ele trabalha como voluntário desde pequeno. Seu conhecimento musical não vai além de saber tocar violão de forma amadora, mas mesmo assim decidiu se dedicar a essas aulas. Envolvido com o Lar Dona Cotinha há aproximadamente nove anos, há seis ensina crianças a tocarem instrumentos. Mesmo que não os tenha. A percussão, por exemplo, já foi feita em cadeiras e caixas. A "barulheira" surgida logo se transformou em música. E assim foi nascendo o projeto CD para Viver.
Como alguns dos meninos precisam sair por causa da idade e outros voltam para a família por decisão judicial, nunca tinha sido possível montar um grupo fixo. Até que, com um pouco mais de força de vontade, surgiu o Vagando em Versos. Não contentes em apenas tocar músicas conhecidas, começaram a compor. “Misturamos tudo: MPB, samba, Chico Science e Tim Maia. Nosso som acabou muito dançante”, se empolga Agnaldo, que logo percebeu o potencial da turma. E ela soube reconhecer seu esforço: aos 38 anos, é considerado um irmão mais velho por seus alunos.
Com algumas idéias a mais –“minha cabeça não pára”, explica -, ele saiu em busca de ajuda para gravar um disco com as composições da banda. Conseguiu convencer seu chefe na empresa a pagar algumas horas de estúdio, pegou instrumentos emprestados de amigos e realizaram o que parecia impossível: sete músicas gravadas e masterizadas. Falta só distribuir – o que já é um novo desafio. O grupo não tem dinheiro para fazer cópias do disco original, nem o Lar possui recursos para contribuir.
O Dona Cotinha colabora de outras formas para melhorar a vida dessas pessoas. Ele abriga 32 crianças e adolescentes, em sua maioria entre 13 e 15 anos. Além da oficina de música, dá orientação pedagógica e realiza eventos culturais para os internos. Aos pais, oferece um curso de padeiro, cestas básicas e ingredientes para praticarem os aprendizados em casa. “Fazemos isso pois às vezes o maior problema é com a família e não com a criança”, diz Cláudia Miriam, coordenadora do lar.
Fundado em 1992 em homenagem à mãe da atual presidente, que sempre fez trabalhos sociais, o Dona Cotinha conta principalmente com a ajuda de empresas que fazem doações materiais ou em dinheiro, além da promoção de bazares e bingos esporádicos para se manter. A maioria de seus dez funcionários são voluntários.
Para ter futuro
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Para manter o projeto atuante e alavancar as vendas do CD, o objetivo é fazer apresentações pagas para empresas e organizações sociais maiores, a fim de arrecadar algum dinheiro. Mas, ainda faltam convites suficientes para que essa idéia se concretize. A intenção é, além de fazer a apresentação musical, mostrar coreografias feitas por outro grupo dentro do Lar Dona Cotinha, a partir das músicas gravadas. Com os recursos, pretendem copiar o disco e vendê-lo, doando parte do preço de capa para o abrigo e outras entidades. “Não podemos ser egoístas. Não adianta fortalecermos só a nossa instituição. Vinte reais podem parecer muito pouco, mas para nós é muito”, lembra Agnaldo.
Além do dinheiro, outra preocupação do professor de música é o futuro dos jovens. Aos 18 anos, são obrigados a deixar o abrigo e muitos não têm aonde ir ou emprego. A música pode ser um caminho para a profissionalização, mas, novamente, faltam parceiros para levar isso adiante.
Para ajudar, o contato deve ser feito com a entidade pelo telefone (11) 6692-0565.
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