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Consumo de responsabilidade

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Novidades do Terceiro Setor






O Idec lançou no dia 20 de julho um projeto de medição de responsabilidade social empresarial em parceira com a organização holandesa Consumentenbond. A iniciativa irá desenvolver uma metodologia capaz de averiguar como as empresas brasileiras têm lidado com toda a cadeia produtiva, principalmente quanto à relação com os consumidores. O objetivo é fazer uma medição da responsabilidade social das corporações e dar subsídios para os cidadãos escolherem melhor na hora da compra. Por enquanto ela ficará restrita a empresas que atuem apenas na Holanda e no Brasil para que seja possível comparar a postura delas em um país desenvolvido e em outro em desenvolvimento.

A metodologia da organização holandesa - a maior entidade de defesa dos direitos do consumidor daquele país, reunindo aproximadamente 600 mil pessoas - será complementada e adaptada para o Brasil. Buscará atestar os procedimentos empresariais em relação a meio ambiente, relacionamento com fornecedores e trabalhadores (inclusive os terceirizados), além de avaliar sua propaganda. Mas o principal foco será a relação com os consumidores. Ou seja, os principais critérios procurarão perceber como as empresas se portam perante problemas, como disponibilizam informações sobre os produtos e se são honestas nessa relação. O número de empresas envolvidas a princípio será pequeno, pois a metodologia ainda deve ser testada. Mas o porte das companhias será grande. A idéia é aperfeiçoar o sistema aos poucos para no futuro estendê-lo para o maior número possível de empresas.

Na Holanda, uma série de perguntas é enviada a empresas e supermercados. Na última medição, feita em 2002, dos 60 questionários enviados, 50 foram respondidos. Foi feita uma espécie de lista negra de empresas que se recusaram a participar da pesquisa. Uma semana depois, oito enviaram respostas. As demais não se pronunciaram.

Por aqui, o Idec planeja distribuir questionários para as selecionadas entre outubro e dezembro. A partir das respostas, será feito um ranking entre elas. Mas para garantir que todos os lados serão ouvidos, os resultados serão checados com sindicatos e organizações sociais que tenham ou já tiveram relações com a empresa. “É uma chance para elas esclarecerem assuntos polêmicos e se manifestarem quanto à resolução”, diz Marcos Pó, coordenador da iniciativa no Idec. Os resultados serão publicados em abril ou maio na página do Instituto.

Confusão com o termo

Essa não é a primeira iniciativa que procura atestar a responsabilidade social das empresas. O Instituto Ethos possui indicadores sociais, o Ibase concede o selo Balanço Social Ibase/Betinho enquanto a Fundação Abrinq emite o selo “Empresa Amiga da Criança”. A diferença da avaliação do Idec é o enfoque dado ao consumidor, que por vezes fica perdido diante do marketing empresarial. O objetivo é levar aos consumidores informações mais abrangentes sobre o conceito de responsabilidade social – o qual, também, fica confuso, perto de tanto marketing e publicidade.

“Há muita confusão em relação ao termo ‘responsabilidade social’”, afirma Marcos Pó. “Algumas empresas o utilizam como estratégia de marketing apenas. Não adianta elas promoverem o trabalho voluntário e apoiarem comunidades vizinhas se não tratam bem seus funcionários e desrespeitam o meio ambiente.” Em outras palavras, a responsabilidade das empresas para com a sociedade, ou seja, a responsabilidade social deve estar presente em todas as etapas e processos das companhias, e, não, funcionar como um programa isolado a ser acionado em alguns momentos apenas.

O Idec considera como socialmente responsável aquela empresa ética em seu cotidiano, que siga leis ambientais e pratique o consumo sustentável, respeite seus empregados – inclusive os terceirizados -, que trate bem seus consumidores, oferecendo informações necessárias para o consumo e resolvendo problemas de forma amigável e simples.

O número de pessoas que deixa de comprar produtos por não concordarem com práticas em sua cadeia produtiva é cada vez maior em todo o mundo, mas por aqui a prática ainda não é comum. Em pesquisa realizada pelo Instituto Ethos no ano passado sobre a percepção do consumidor quanto à responsabilidade social das empresas, 67% dos entrevistados afirmaram não ter pensado em punir empresas irresponsáveis socialmente deixando de comprar seus produtos ou falando mal dela para outras pessoas. Apenas 14% afirmaram ter tomado tal atitude, enquanto 17% pensaram em fazer algo, mas acabaram não levando adiante seu pensamento.

O mesmo estudo mostra que 33% dos entrevistados consideram selos impressos na embalagem a melhor forma de identificação de uma empresa responsável. O Idec, no entanto, não dará selos, pois considera que a avaliação deve ser dinâmica. Porém, os consumidores poderão ver as análises na página do Instituto, que será atualizada sempre com informações sobre o comportamento das empresas.

Agora resta às pessoas consumir com responsabilidade.

Marcelo Medeiros

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