Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Ao estender a mão para cumprimentar seu colega de trabalho recém-contratado, o funcionário ficou constrangido. O novo companheiro não tinha um braço e não pôde corresponder. A pessoa com deficiência estende a outra mão e é correspondida pelo funcionário mais antigo, que, da próxima vez, ficará cheio de cuidados com o novo contratado e o tratará de forma diferente dos outros. Ou não irá mais estender a mão para cumprimentos. Esse tipo de situação é comum em empresas. A imensa maioria dos funcionários não sabe como lidar com pessoas com deficiências e, por isso, teme cometer gafes e causar constrangimentos. Para evitar essas “dificuldades”, as empresas acabam evitando contratar portadores de necessidades especiais.
“Existe um grande medo do desconhecido”, diz Açucena Calixto Bonanato. “Por isso criamos barreiras para evitar passar vergonha”. Ela é presidente do Instituto Pró-Cidadania de Desenvolvimento e Capacitação para Pessoas Especiais (IPC), organização criada há pouco mais de um ano e que procura melhorar a vida de pessoas com deficiências. A mais recente iniciativa do Instituto, lançada no começo de julho, é a cartilha “Um Segundo - Cartilha do Conviver”. Suas 30 páginas dão dicas de como se portar em situações como a descrita no início deste texto para que as relações humanas dentro de escritórios, fábricas ou qualquer outro lugar sejam saudáveis e sem equívocos.
A publicação é, de uma maneira geral, um “manual de etiqueta” que compila situações vividas e ensinadas por integrantes da organização ao longo de anos fazendo palestras em empresas. Para deixar mais amigáveis as lições, um grupo de voluntários jovens do IPC - o Grupo Teen - criou uma personagem, Tchub. Imaginada inicialmente para ser mascote do Instituto, Tchub é um animal que teria deficiências. Os próprios adolescentes alertaram que, caso adotasse a criação como mascote, a organização estaria afirmando o preconceito que pretende extinguir. Afinal, ele seria bicho, algo diferente demais para uma mensagem de igualdade. As pessoas também poderiam interpretar que o Instituto estava associando pessoas com deficiências a animais, causando confusão ainda maior. Por isso, Tchub foi transformado em professor, que guia o leitor pelas diversas situações.
Um dos exemplos dado pela personagem é como conviver com uma pessoa que usa cadeira de rodas. Deve-se empurrá-la? Com que força? Quando fazer? As respostas são dadas por Tchub: só se deve empurrar quando quem estiver nela sentado pedir e é ela que dirá a intensidade a ser usada. Outra dica é o conselho de nunca pegar um cego pelo braço, mas, sim, oferecer o cotovelo para ele se apoiar e ser guiado.
De acordo com Açucena, a convivência - e saber como conviver - traz melhoria aos relacionamentos. “As pessoas começam a repensar seus valores, e isso é aplicado não só às pessoas com deficiências. Toda a equipe é beneficiada”, explica. A melhoria pode ser sentida inclusive por antigos funcionários que foram adquirindo alguma deficiência como surdez e cegueira ao longo do tempo. O tratamento dado a estes costuma mudar. Eles passam a ser tratados com pena e suas funções são repassadas a outros, mesmo quando ainda são plenamente capazes. Essa é mais uma das situações que podem ocorrer dentro das companhias, e - estimulando os funcionários a lerem a cartilha e saberem melhores formas de relacionamento - são justamente as empresas que podem se beneficiar mais: com a melhoria do ambiente de trabalho e o conseqüente aumento de produtividade.
Também é objetivo da cartilha estimular as companhias a fazerem mudanças físicas no ambiente de trabalho para beneficiarem quem tem necessidades especiais. Não basta melhorar as relações se, por exemplo, não houver rampas para quem anda de cadeiras de rodas. “Na verdade a sensibilização é uma etapa posterior à acessibilidade no ambiente de trabalho”, diz Açucena, lembrando a importância desta etapa para a melhor convivência das pessoas.
Há duas formas de obter a cartilha: uma é por lote e outra por unidade. Quando se encomenda grande quantidade, mudanças na diagramação são possíveis para que a publicação se adapte e ganhe a "cara" da empresa que comprou o lote e vai distribuí-lo. Na quarta capa é possível colocar a marca da institiução. Além disso, o espaço do editorial, normalmente ocupado por um artigo de Açucena, é disponibilizado para que o diretor escreva uma mensagem para sua equipe, gerando indetificação maior da empresa na cartilha. A outra forma é comprar por unidade. Em ambas, o valor deve ser negociado com o IPC. Certo é que uma porcentagem do valor de impressão no caso de se comprar a versão personalizada vai para a organização, que reinveste os recursos em outros projetos - também de acessibilidade e capacitação para o trabalho.
Quem estiver interessado pode entrar em contato através do telefone (11) 3277-0337, do correio eletrônico informacao@institutoprocidadania.org.br e do site www.institutoprocidadania.com.br.
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