Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
No Brasil, as fontes energéticas mais utilizadas têm sido a hidráulica e petróleo. Cerca de 90% do suprimento de energia elétrica do país provêm de geração hidráulica, e o petróleo representa mais de 30% da matriz energética nacional. Apesar da importância dessas fontes, a conjuntura atual do setor elétrico brasileiro - crescimento da demanda, escassez de oferta e restrições financeiras, socioeconômicas e ambientais à expansão do sistema - indica que o suprimento futuro de energia elétrica exigirá maior aproveitamento de fontes alternativas.
Por isso, a importância do debate sobre que fontes deverão ser usadas para expandir e diversificar o sistema energético brasileiro. As energias eólica, solar e de biomassa se apresentam como boas opções de energias limpas e renováveis. No entanto, em vez de investir mais expressivamente nelas, o governo anunciou o investimento na construção de Angra III. Segundo Sérgio Dialetachi, do Greenpeace, os U$ 2,5 bilhões que serão investidos na construção desta usina, se empregados na geração eólica (pela força dos ventos), poderiam proporcionar a produção de 29 vezes a quantidade de 1.300 MW (aproximadamente) que será gerada em Angra III.
Angra III, se concretizada, será mais um capítulo de uma história que começou em 1972, com a construção de Angra I (que tem capacidade de gerar 657 MW) teve início em 1972. A primeira reação nuclear em cadeia ocorreu em março de 1982 e a usina entrou em operação comercial em janeiro de 1985, mas logo após saiu de operação e retornou somente em abril de 1987, operando de modo intermitente até dezembro de 1990 (nesse período, operou com 600 MW médios durante apenas 14 dias). Entre 1991 e 1994, as interrupções foram menores ou menos freqüentes, mas somente a partir de 1995 a usina passou a ter operação mais regular.
Em junho de 1975, foi assinado com a República Federal da Alemanha o Acordo de Cooperação para o Uso Pacífico da Energia Nuclear. Em julho do mesmo ano, foi feita a aquisição das usinas de Angra II e Angra III, junto à empresa alemã Kraftwerk Union A.G. (KWU), subsidiária da Siemens. A construção de Angra II (1.309 MW) teve início em 1976 e a previsão inicial para a usina entrar em operação era 1983. Porém, por falta de recursos, a construção ficou paralisada durante vários anos e a operação do reator ocorreu somente em julho de 2000, com carga de 200 MW a 300 MW. Entre 20 de agosto e 3 de setembro daquele ano, a usina funcionou regularmente, com 915 MW médios. A partir de então, operou de modo intermitente até 9 de novembro, quando passou a operar com potência de 1.365 MW médios. Os dados são do Atlas de Energia Elétrica do Brasil, produzido pela Aneel, que traz também o reconhecimento de que "o futuro da energia nuclear não é muito promissor, em virtude dos problemas de segurança e dos altos custos de disposição dos rejeitos nucleares".
Esses riscos puderam ser vistos, apesar de brandamente, no Brasil com o incidente com césio 137, em Goiânia, em setembro de 1987, quando sucateiros violaram uma cápsula de césio 137 resultou em quatro mortes. (O césio 137, subproduto das usinas nucleares, foi largamente utilizado no tratamento de vítimas de câncer durante décadas, por meio da radioterapia). Cerca de 250 pessoas tiveram problemas de saúde na época. No ano passado, cerca de mil foram consideradas afetadas pela radioatividade do césio de Goiânia, grande parte das quais são funcionários públicos que trabalharam na assistência às pessoas contaminadas.
Porém, o acidente mais grave com energia nuclear de que se tem notícia é o de Chernobil, na Ucrânia, ocorrido em abril de 1986, quando a explosão de um dos quatro reatores da usina nuclear de Chernobil. A nuvem radioativa atingiu proporções gigantescas, cobrindo grande parte do território europeu e atingindo milhões de pessoas. Os danos causados pelo acidente foram incalculáveis e ainda hoje há sérias conseqüências, entre as quais mutações genéticas provocadas pela emissão de material radioativo e contaminação do solo, vegetação e corpos d’água. Estima-se que entre 15 mil e 30 mil pessoas morreram, e aproximadamente 16 milhões sofrem até hoje alguma seqüela em decorrência do desastre.
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