Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Neste dia 8 de agosto, 30 jovens receberam certificado pela conclusão do Curso de Pintura e Tapeçaria, implementado pela Associação Santo Dias, no bairro do Ancuri, em Fortaleza. Realizado com recursos do Capacitação Solidária, o curso ocasionou a criação de um novo projeto social naquela comunidade: o Ateliê Solidário – inaugurado no dia 28 de julho, com o apoio da Visão Mundial. O objetivo é contribuir para melhorar as condições de vida da população, principalmente sua parcela jovem, através de uma alternativa de formação profissional.
Voltado para pessoas entre16 e 21 anos, o Curso de Pintura e Tapeçaria aconteceu de março a agosto deste ano. Através do programa, cada aluno recebia uma bolsa de R$ 50 por mês e matéria-prima para fazer os seus trabalhos. A idéia de inaugurar um espaço para os jovens artesãos surgiu da própria motivação deles. Segundo Edvan Florêncio, um dos coordenadores da entidade, alguns dos adolescentes demonstraram muito interesse em continuar no projeto, mesmo após o término da bolsa e do financiamento. "Ganhando R$ 50 por mês, muitos jovens optariam por comprar roupa, tênis etc. Os adolescentes do curso preferiram se juntar para comprar tinta e tela, para poderem continuar com as atividades."
No Ateliê, os jovens continuarão a estudar pintura e tapeçaria e, possivelmente, outras artes. Três novas turmas devem ter início ainda este mês: outra para jovens de 16 a 21 anos; uma para crianças entre 10 e 12 anos e uma para crianças entre 8 e 12 anos (com aulas de pintura e recreação). Para participarem das atividades do Ateliê, as crianças e os adolescentes devem estar matriculados em escolas públicas, ter nível de escolaridade até o ensino fundamental e baixa renda familiar. Trinta profissionais estão envolvidos no projeto, que também conta com o apoio de outras instituições locais. As atividades não ficarão restritas ao espaço recém-inaugurado. Novas turmas devem ser montadas também em escolas públicas da região.
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Nas telas, meninos e meninas desenham paisagens, objetos e imagens abstratas. Nas aulas de tapeçaria – que também faz parte da cultura da comunidade - surgem tapetes, bolsas, mochilas, travesseiros, jogos de mesa e o que mais a criatividade dos jovens permitir. Os produtos são vendidos principalmente em feiras realizadas em outras comunidades, mas a Associação pretende organizar esses eventos também em Ancuri. A intenção é atrair cada vez mais jovens em situação de risco na comunidade.
Um dos jovens que, antes do curso, ficava perambulando pelas ruas da comunidade durante o dia hoje se destaca no projeto com os seus quadros. Antônio Carlos, de 18 anos, conta que já tinha interesse em pintura e agora está sabendo aproveitar a oportunidade. Já consegue vender cerca de quatro quadros por semana. Ainda não dá para lucrar, só para comprar os materiais. Mas ele está confiante e diz que as aulas diárias oferecidas pelo programa mudaram em muito a sua vida. "Eu ficava na rua, fazia desordem, furtos. Saí e pretendo nunca mais voltar. Aprendi a ganhar dinheiro suando, com uma coisa que eu gosto de fazer", diz Antônio, entusiasmado.
Roberto Cordeiro, diretor da Associação Santo Dias, conta que no início não foi fácil. "Muitos desses jovens vivem numa mesma casa com duas ou três famílias; têm problemas de relacionamento e dificuldade de permanecer na escola. No começo do curso eles não conseguiam trabalhar coletivamente. Mas com a possibilidade de produzir com a sua própria criatividade, eles passaram a ficar mais concentrados. Quando vêem as pessoas gostarem dos seus produtos e comprarem, aumenta ainda mais a auto-estima", diz. Rosélia Oliveira, de 17 anos, superou essas dificuldades iniciais e hoje está muito contente com o sucesso dos seus produtos de tapeçaria. "Os primeiros dias foram difíceis. Mas hoje já recebo até encomendas", diz Rosélia, com orgulho. Isso tudo em um projeto que está apenas começando sua etapa mais sólida.
Uma das metas da iniciativa é formar uma cooperativa com os alunos que tiverem o curso concluído. Atualmente, o Ateliê também oferece oficinas de desenvolvimento, relacionamento e cooperativismo, para que os adolescentes possam se auto-gerir, aprendendo a se organizarem e fazerem bom uso do dinheiro para comprar suas próprias matérias-primas. "Queremos que eles vejam que a partir de agora eles são protagonistas das histórias deles. Um grupo solidário de produção fará com que eles possam se ajudar mutuamente, e que não dependam só da entidade", afirma o diretor.
O projeto não oferece apenas cursos, mas também estimula os alunos a terem uma visão nova e ampliada de trabalho comunitário e de cidadania. Segundo Roberto, ao conhecerem outras ações da Associação voltadas para a comunidade – como os cursos de informática, corte e costura e padaria – os jovens adquiriram maior sensibilidade e uma vontade de retribuir o que aprenderam contribuindo para a vida na comunidade.
De acordo com Edvan, dos 30 jovens que concluíram o curso, pelo menos cinco devem atuar e ser remunerados como monitores no Ateliê. Outros poderão colaborar em diversos projetos da instituição. "Não queremos perder esses meninos de vista", afirma.
Apesar de o Ateliê Solidário já ter tanta história para contar, comemorando a conclusão da sua primeira turma, o trabalho está só começando. Mãos à arte.
Mais informações sobre o projeto pelos telefones (85) 274-5059 ou (85) 472-8214.
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