Elas ensinam a fazer renda

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Como as mulheres estão se organizando para gerar renda? Esta é a pergunta que a Rede de Educação Popular entre Mulheres da América Latina (Repem) procura responder através do Concurso de Empreendimentos Exitosos Liderados por Mulheres, que em 2003 é lançado em sua quarta edição. Em cada país onde existem instituições integrantes da Repem, ocorre uma etapa nacional do concurso que, no Brasil, é organizado e coordenado pela ONG Rede Mulher de Educação, com o apoio do Consulado da Mulher - ação de responsabilidade social da empresa Multibrás - e da Agência de Cooperação Holandesa Novib. Além de divulgar os empreendimentos de diferentes países e reconhecer os esforços e conquistas das mulheres empreendedoras, o concurso pretende descobrir os fatores que levam essas iniciativas ao êxito.

Para participar do concurso, o empreendimento deve ter a direção e a gestão a cargo de mulheres; deve estar organizado em forma de grupo, associação, cooperativa, empresa familiar, micro ou pequena empresa, nos setores rural ou urbano; deve também ter pelo menos três anos de existência. Segundo Beatriz Cannabrava, que coordena o concurso no Brasil e é uma das fundadoras da Rede Mulher de Educação, os critérios de seleção são complexos. É avaliado, por exemplo, o que mudou na vida das mulheres e na sua relação com a família, com a sua participação no empreendimento.

Dos concursos anteriores, participaram 400 empreendimentos de nove países, num total de 13 mil mulheres. No Brasil foram premiadas: a Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (Asmubip) - que atua na produção de óleo do babaçu -, no Tocantins; a Cooperativa de Trabalho Artesanal e de Costura da Rocinha (Copa Roca) e Abayomi (que produz bonecas artesanais), ambas do Rio de Janeiro; a Griffe Morro da Cruz e a Cooperativa Univens, que são da área de confecção e estão sediadas em Porto Alegre, e a Indústria e Comércio de Doces Camponesa, de Birigui, São Paulo, que se destaca na produção de doce-de-leite.

A Rede Mulher de Educação tem constatado que um dos fatores determinantes para o sucesso desses empreendimentos é a capacitação. "Tudo depende das oportunidades de aprendizado", afirma Beatriz. Por esse motivo, segundo ela, os empreendimentos rurais sofrem mais dificuldades. "Em relação aos empreendimentos urbanos, os rurais têm menos acesso a cursos e assessoria, além de enfrentarem outras dificuldades, como o escoamento do produto, por exemplo", diz. Também são determinantes para o êxito das iniciativas a capacidade de organização e gerenciamento do empreendimento e da comercialização. Neste sentido, a participação de mulheres no orçamento participativo dos municípios também tem tido papel importante. Beatriz diz que, no último concurso, houve muitos destaques do Rio Grande Sul, onde algumas prefeituras implementaram o orçamento participativo. "As empreendedoras contaram que aprenderam bastante através do orçamento participativo, ao fazerem reivindicações junto ao governo e acompanharem a distribuição de verbas públicas".

Em 2003, os três melhores empreendimentos brasileiros ganharão R$ 1 mil, R$ 500 e R$ 300, respectivamente; terão suas experiências relatadas numa publicação da Rede Mulher de Educação e participarão do Encontro Anual da Rede Mulher de Educação, que ocorrerá em novembro, em 2003. O grupo que obtiver o primeiro lugar concorrerá ainda a duas bolsas para estágio de aperfeiçoamento profissional em outros países do continente; terá sua experiência sistematizada e publicada no livro Asi se Hace IV - editado pela Repem e distribuído para as suas entidades filiadas -, juntamente com as dos outros grupos vencedores na América Latina e concorrerá com os vencedores dos outros países no concurso latino-americano.

As inscrições devem ser enviadas por correio para a Rede Mulher de Educação até o dia 20 de setembro. A ficha de inscrição pode ser obtida em www.redemulher.org.br. Outras informações, pelo telefone (11) 3873-2803 ou através do correio eletrônico rdmulher@redemulher.org.br.

Mariana Loiola