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E por falar em sexo...

Autor original: Mariana Abreu

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Foi-se o tempo em que educação sexual era sinônimo de figuras representando o corpo humano e lições sobre ovários, hormônios e trompas de falópio, numa abordagem professoral. Este conceito de educação sexual está ultrapassado - pelo menos para o Centro de Educação Sexual (CEDUS), do Rio de Janeiro. A ONG lançou em agosto um kit pedagógico diferente, voltado para instituições e profissionais que trabalham com educação sexual para jovens. O kit é formado pela cartilha "Dinamizando a educação sexual" e pelo vídeo "E por falar em sexo...", que apresenta a temática a partir do ponto de vista dos próprios jovens.


"Geralmente essas questões são abordadas de maneira chata, cheia de formalidades. Queremos fugir deste padrão formal-biológico, porque sempre que se tenta tratar do assunto ou produzir um material pedagógico há a tendência de enfocar o conhecimento biológico, acadêmico", diz Sheila Federici, coordenadora de projetos do CEDUS. Ela acrescenta que o objetivo da instituição é tratar as questões sexuais como fatos sociais, naturais e como direitos dos adolescentes, inclusive.


Desde 93 o CEDUS já vinha trabalhando a questão da saúde e educação a partir de metodologias diferentes. Em seu primeiro projeto a organização formava grupos de teatro com jovens multiplicadores, que capacitavam profissionais em escolas e unidades de saúde. Já nesta época existia a idéia de produzir um material pedagógico inovador, que pôde ser concretizada agora com recursos do Projeto Sustentabilidade, do Ministério da Saúde.


Por eles e para eles


A partir de uma pesquisa realizada em cinco áreas do Rio pelo CEDUS, em que jovens treinados entrevistavam outros jovens sobre uso da camisinha, foram levantadas algumas questões sobre sexualidade. A organização levou estas questões para serem discutidas por alunos de uma escola particular, que já participavam de uma capacitação realizada por um professor ligado ao CEDUS. Nesta discussão foram definidos os temas que constariam do vídeo, escolhidos pelos próprios adolescentes - que também elaboraram o roteiro e atuaram nas cenas do filme. Na opinião da coordenadora do CEDUS, este é o grande diferencial da fita: ter sido feita por e para jovens. "Através desta experiência, confirmamos nossa opinião de que os adolescentes podem e devem ser os protagonistas, ter vez e voz", ressalta Sheila.


"E por falar em sexo..." aborda cinco temas principais - menstruação, masturbação, virgindade, gravidez na adolescência e homossexualidade - de uma forma leve e dinâmica. Cada tópico é introduzido por um curto esquete representado pelos adolescentes, seguido de discussões, entrevistas com jovens, depoimentos de profissionais das áreas de saúde e educação e de uma especialista em sexualidade humana.


Os esquetes retratam situações concretas, que fazem parte da vida dos jovens - o menino sendo flagrado com uma revista erótica no banheiro da escola, a conversa entre amigas sobre gravidez e a possibilidade do aborto, que retrata as dúvidas e conflitos que surgem com o assunto. Sheila Federici diz que este é o espírito do vídeo: "Ele não traz respostas prontas. Nem mesmo os depoimentos dos profissionais e especialistas mostram conclusões definitivas ou fecham as questões. Não é isso que queremos. O vídeo apresenta opiniões diversas e muitas vezes contrastantes. Ele provoca discussões e amplia os temas".


O mesmo faz a cartilha "Dinamizando a educação sexual", que reúne várias sugestões de dinâmicas e técnicas para trabalhar a sexualidade e assuntos relacionados. As atividades estimulam uma postura participativa nos adolescentes e cada uma delas pode ser usada para abordar temas diversos. A idéia é que se vá além da sexualidade, explorando também aspectos como identidade, protagonismo juvenil e relações de gênero.


O retorno até agora tem sido bastante positivo. No dia do lançamento o vídeo foi apresentado para um público heterogêneo, formado por representantes de ONGs, profissionais de saúde e educação e jovens multiplicadores de comunidades. Sheila conta que após a exibição foi procurada por muitas pessoas. "A maioria elogiou a simplicidade da linguagem, pois torna mais fácil a discussão dos temas com os adolescentes, através da própria realidade deles. Lembro que algumas alunas da UERJ gostaram principalmente dos esquetes que tratam de menstruação e gravidez, pois geralmente são assuntos mais delicados de se abordar".


O material já está sendo utilizado por outras instituições, como o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente e o Projeto Preservação da Vida Humana. Aída Lima, coordenadora do projeto, que capacita jovens multiplicadores em educação sexual, diz que a reação foi muito boa: "Eles ficaram bastante empolgados, disseram que com esta linguagem vai ser mais fácil falar com os outros adolescentes". Aída explica que os jovens se colocam no lugar dos personagens e se identificam com as situações retratadas. "Isso é muito bom, porque os deixa mais a vontade para falar das próprias experiências e discutir as questões levantadas", acrescenta ela.


Criatividade para realizar


Para chegar a este resultado, a coordenadora do CEDUS diz que foi percorrido um longo caminho: "Há muito tempo queríamos realizar este projeto, mas sempre faltavam recursos." A oportunidade surgiu através do Projeto Sustentabilidade, do Ministério da Sáude. Foi aberta uma concorrência de projetos, para os quais seriam liberadas pequenas verbas para a produção de materiais ou iniciativas que pudessem viabilizar novas ações das ONGs. O CEDUS foi uma das organizações escolhidas.


Sheila Federici diz que foi preciso muita criatividade e colaboração voluntária (ou quase) dos profissionais envolvidos para produzir os vídeos e cartilhas com os R$ 10 mil recebidos. "Tudo que fizemos foi com preço muito abaixo do mercado." Sheila conta que no dia do lançamento, uma produtora ficou espantada ao saber o valor da verba usada no projeto: "Ela disse que sem pelo menos R$ 30 mil nem se começa a produção de um vídeo. E nós conseguimos mais, com menos."


Com os recursos obtidos a partir da venda do material, que pode ser adquirido em conjunto ou separadamente, o CEDUS planeja produzir o segundo volume da cartilha. Para isso, a organização está aberta não só para prestar esclarecimentos, como também para receber críticas e sugestões. "Queremos que as pessoas se envolvam e tragam idéias novas, pois o objetivo é, através das contribuições recebidas, melhorar cada vez mais nosso trabalho", diz Sheila.


Quem quiser encomendar o kit pedagógico pode entrar em contato com o CEDUS pelos telefones (21) 2544-2866 e 2517-3293, pelo correio eletrônico cedus@hotmail.com ou no endereço Av. Gen. Justo, nº 275 , 203/A, no centro, no Rio de Janeiro (RJ). O valor da cartilha e do vídeo, respectivamente, é de R$ 10 e R$ 25. O kit completo sai por R$ 30.


Mariana d' Abreu

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