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Articular para cooperar

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Mobilizar entidades e universidades para o estímulo à economia popular e solidária - esta é a idéia do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (Proninc), criado em 1997, e que o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep) relança este mês. O Proninc dá suporte a incubadoras geridas por universidades na capacitação dos integrantes de cooperativas populares. A iniciativa conta com o apoio da Secretária Nacional de Economia Solidária, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Fundação Banco do Brasil e do Banco do Brasil.

A idéia do Proninc começou a ser desenvolvida em 1994, quando o Coep mobilizou entidades associadas para o apoio a ações de geração de trabalho e renda. O Comitê atentou para o fato de que, além de recursos financeiros, a principal ajuda que as cooperativas necessitavam era na área de capacitação. Concluiu-se que esse suporte técnico poderia vir de iniciativas como as incubadoras de empresas de base tecnológica nas universidades - que oferecem orientação prática e profissional para o desenvolvimento de empreendimentos. "Por que não fazer algo similar para economia popular?" foi a pergunta que levou o Coep a iniciar uma articulação com a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), como conta o presidente do Coep Nacional, André Spitz. A partir dessa articulação, em 1997, foram criados o convênio que viabilizou o Proninc e a incubadora voltada para a geração de trabalho e renda, na UFRJ. A incubadora apoia as cooperativas populares desde a fase inicial de criação até sua inserção no mercado. Para isso, as populações de baixa renda são estimuladas a se envolverem em atividades produtivas, por meio de uma organização de produção solidária, que permite que todos sejam responsáveis pelo próprio trabalho, pela comercialização e pela gestão do seu negócio. Assim é formada a cooperativa, que recebe da incubadora capacitação e consultoria em diversas áreas, como contabilidade, gestão e marketing.

A experiência do Proninc foi muito bem recebida e absorvida em outras universidades. A tecnologia social da primeira incubadora de cooperativas populares foi aplicada em mais cinco universidades, nos estados do Ceará, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Bahia. Nessa primeira fase, o Proninc investiu em torno de R$ 8 milhões nas seis incubadoras e beneficiou 65 cooperativas populares, o que possibilitou a criação de 2.500 postos de trabalho.

Segundo Spitz, o relançamento do programa é nada mais do que um reforço a um processo que nunca foi interrompido. "Desde o início, o processo de geração de incubadoras lançado pelo programa foi contínuo. Surgiram novas incubadoras que seguiram o método do programa, mesmo sem fazerem parte do Proninc", diz. Hoje existe uma rede formada por mais de 20 incubadoras de cooperativas populares nas universidades.

A meta desta segunda fase é atender mais 30 incubadoras. Na primeira semana de setembro aconteceu a primeira reunião do comitê gestor do programa, formado por entidades associadas ao Coep. O programa pretende reunir todas as universidades, incubadoras (mesmo as autônomas) e entidades que participaram da primeira fase, além de novos parceiros. Com a formação de uma rede composta por esses atores, será possível definir novas formas de apoio e os volumes de recursos que serão aplicados no âmbito do Proninc. O comitê gestor, que analisará as propostas das incubadoras que solicitarem apoio, ainda discute os critérios de financiamento.

De acordo com Spitz, a prática do cooperativismo – como alternativa de inclusão social de pessoas que estão fora do mercado de trabalho - pode representar uma grande contribuição para o combate à fome, bandeira do governo federal. "Aqui no país existem muito poucas experiências. O cooperativismo tem um espaço enorme para crescer no Brasil", diz. Para isso, ele ressalta, há muito o que avançar também na legislação e na cultura do cooperativismo no país. "O cooperativismo ainda não é bem compreendido no Brasil, pois se constitui numa mudança da relação de trabalho. As pessoas precisam entender que a cooperativa não tem dono e que o cooperativado não é empregado, por exemplo." As universidades, por sua vez, podem colaborar significativamente para a expansão do cooperativismo. "A experiência do Proninc mostra que as universidades têm um grande papel na geração de oportunidades de trabalho e renda no país", afirma.

Mariana Loiola

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