Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Artigos de opinião
André Trigueiro*
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Quem se interessa por meio ambiente e já procurou livros em português sobre o assunto deve ter se deparado com o seguinte problema: salvo raras e maravilhosas exceções, o que predomina nas prateleiras são os livros técnicos - com todo o jargão ecológico e tecnicista - e os cartões postais em forma de livro, com exuberantes registros visuais da fauna e da flora. Quem quiser ir além, explorando todas as possibilidades que a questão ambiental oferece na discussão de um novo modelo de civilização onde a exploração dos recursos naturais se dê de forma sustentável, fica na vontade.
Em se tratando de um assunto que vem conquistando cada vez mais espaço e prestígio no mundo moderno, é urgente que todos possamos perceber a ordem de grandeza em que se situa hoje a questão ambiental e, talvez surpreendidos, nos darmos conta de como isso nos alcança de forma profunda, visceral.
Um erro bastante comum é confundir meio ambiente com fauna e flora, como se fossem sinônimos. É grave também a constatação de que a maioria dos brasileiros não se percebe como parte do meio ambiente, normalmente entendido como algo de fora, que não nos inclui. A expansão da consciência ambiental se dá, portanto, na exata proporção em que percebemos meio ambiente como algo que começa dentro de cada um de nós, alcançando tudo o que nos cerca e as relações que estabelecemos com o universo. Trata-se de um assunto tão rico e vasto que suas ramificações atingem de forma transversal todas as áreas do conhecimento.
Esse foi o ponto de partida do projeto editorial “Meio ambiente no século 21” [Editora Sextante]. O público-alvo do livro é tão extenso quanto a abrangência dos assuntos que compõem a edição. O principal objetivo do projeto, que consumiu nove meses de trabalho, é oferecer as ferramentas necessárias para que pessoas de diferentes faixas etárias, níveis de instrução e de interesse sobre o assunto possam ampliar a sua consciência ambiental e a sua participação cidadã.
A proposta é audaciosa: neste início do século 21, em que a humanidade enfrenta o esgotamento acelerado dos recursos naturais do planeta num ritmo sem precedentes na história, reunimos 21 textos inéditos de autores que foram desafiados a explicar de forma clara e objetiva como a questão ambiental se insere nas suas respectivas áreas de conhecimento e nos meios em que atuam.
Os nomes reunidos no projeto sugerem o cuidado que tivemos na abordagem dos temas: Fritjof Capra (Educação), Leonardo Boff (Espiritualidade), Gilberto Gil (Cultura), Samyra Crespo (Opinião Pública), André Trigueiro (Mídia), Sérgio Besserman (Indicadores), Rubens Harry Born (Terceiro Setor), Fernando Almeida (Negócios) , Fábio Feldmann (Consumismo), Ibsen de Gusmão Câmara (Ciência e Tecnologia), José Goldemberg (Energia), Eduardo Viola (Relações Internacionais), José Eli da Veiga (Agricultura), Alfredo Sirkis (Cidades), Carlos Minc (Trabalho), Moacyr Duarte (Riscos Ambientais), José Carlos Carvalho (Poder Executivo), Fernando Gabeira (Poder Legislativo), Renato Nalini (Poder Judiciário), Aspásia Camargo (Governança), Washington Novaes (Agenda 21).
Para evitar eventuais ruídos na comunicação, um glossário com 131 verbetes produzido pela bióloga e dicionarista Patrícia Mousinho explica cuidadosamente palavras e expressões utilizadas pelos autores.
Neste caleidoscópio de idéias e visões de mundo, é interessante observar um outro aspecto presente nos textos de todos os autores: o convite à reflexão sobre os rumos do desenvolvimento e a necessidade de se buscar, com coragem e determinação, um novo modelo de civilização.
O livro é, portanto, propositivo. Ao mesmo tempo que denuncia e alerta, sinaliza com clareza os caminhos para que possamos alcançar a utopia da sustentabilidade num mundo complexo e dinâmico. É importante ressaltar que os textos reúnem um precioso estoque de informações que embasam diagnósticos invariavelmente preocupantes, mas vai-se além. É flagrante o envolvimento espiritual dos autores com os temas, a forma muitas vezes contundente com que enfrentam as questões propostas em cada capítulo e a coerência de suas trajetórias: a contribuição no campo das idéias encontra respaldo na realidade concreta das atitudes que marcam suas biografias.
Atitude que se manifesta também na cessão dos direitos autorais deste livro: todos os autores indicaram uma organização não-governamental ou projeto ligado à área da sustentabilidade para receber a parte que lhes caberia na venda do livro. Dentre os nomes apontados, o Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org) foi o que recebeu o maior número de indicações, e a ele serão encaminhados os pagamentos referentes aos direitos autorais desta edição.
É óbvio que os 21 temas reunidos neste livro não encerram em si o universo da transversalidade, mas todos os capítulos abordam questões estratégicas, recorrentes nos grandes debates da atualidade e de valor inestimável na compreensão dos problemas que pautam a agenda da Humanidade neste início de milênio.
Esse entendimento mais amplo do que seja meio ambiente nos revela um universo apaixonante onde tudo está conectado, cada pequena parte constitui o todo e o conhecimento não é estanque. A percepção dessa visão ambiental mais abrangente nos insere num movimento virtuoso de construção da cidadania no seu sentido superlativo: a cidadania ecológica planetária, tão necessária e bem-vinda no século 21.
* André Trigueiro é jornalista
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados.
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