Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor
Após três anos de realização do Fórum Social Mundial (FSM) no Brasil, pela primeira vez, o evento global acontecerá bem longe do nosso país. A realização da quarta edição em Mumbai, Índia, deverá impossibilitar a participação da maioria das entidades brasileiras, por motivos financeiros. Para não deixar as ONGs brasileiras distantes do processo do FSM e manter o espaço de diálogo construído nos últimos três anos, o Comitê Brasileiro do FSM, a exemplo de outros países, organiza o I Fórum Social Brasileiro (FSB). Com o lema "Um outro mundo é possível, um outro Brasil é necessário", o evento acontecerá de 6 a 9 de novembro em Belo Horizonte, Minas Gerais. As inscrições já estão abertas.
O FSB pretende ser um espaço político democrático e plural da sociedade civil organizada para discutir questões sociais, econômicas, culturais do Brasil e de posicionamento contra o neoliberalismo. A idéia, segundo Kathia Dudyk, que participa da Secretaria Executiva do FSB em São Paulo, é aprofundar os temas debatidos no FSM e "não deixar a discussão morrer" entre as ONGs brasileiras. "Será uma rara oportunidade para as organizações nacionais se reunirem e discutirem questões brasileiras e questões internacionais que afetem diretamente o Brasil", afirma Salete Valesan, coordenadora de Relações Institucionais do Instituto Paulo Freire, uma das organizações que integram o Conselho Brasileiro do FSM. Para as ONGs que terão a oportunidade de irem à Índia em janeiro, o evento servirá como a etapa brasileira preparatória para o Fórum Mundial.
As atividades se concentrarão no campus da Universidade Federal de Minas Gerais e no Mineirinho, onde serão realizadas as grandes conferências e palestras. A mobilização para o FSB tem ocorrido em diversos estados, com encontros e reuniões preparatórias que propiciem a discussão sobre a participação no evento e as suas temáticas.
O FSB acontecerá nos moldes do Fórum Mundial. Os eixos temáticos que orientarão as discussões são: "Imperialismo", "O Brasil que temos e o Brasil que queremos" e "Movimentos Sociais". Na composição dos eixos são organizadas conferências sobre a Alca, OMC e militarização da América Latina; a superação do neoliberalismo por meio de projetos populares, justiça social e direitos humanos; e movimentos sociais e sua relação com o Estado. Os temas de classe, meio ambiente, liberdade de orientação sexual, gênero, juventude, raça e etnia constituem um eixo transversal que perpassará todos os conteúdos propostos para as atividades. Além das conferências, existe uma série de subtemas propostos, pelos quais as entidades, movimentos e redes poderão se guiar para organizar oficinas, seminários e painéis, além de permitir a reflexão conjunta, troca de experiências, articulação, planejamento e a definição de estratégias. As atividades podem ser propostas na forma de painéis, mesas de diálogo, testemunhos, seminários e oficinas, e devem estar de acordo com a carta de princípios do FSM.
Não há nada definido sobre a periodicidade do Fórum Brasileiro, que deverá ser avaliada a partir deste primeiro encontro. Mas, segundo Salete, o evento deverá acontecer todos os anos em que o Fórum Mundial não for realizado no Brasil. Ou seja, todos os anos as entidades brasileiras poderão se envolver no processo do Fórum Social, seja o evento nacional ou o mundial.
São esperadas para esse primeiro FSB em torno de 40 mil pessoas. Representantes de ONGs de outros países também participarão do evento, a fim de trocar experiências com os brasileiros. Kathia Dudyk diz que diversas entidades de países como Congo e França já estão inscritas. O interesse dos estrangeiros em relação ao evento brasileiro mostra que eles estão de olho nas questões que serão discutidas aqui. "As entidades que participam do Conselho Internacional do FSM querem acompanhar a organização brasileira do Fórum Social fora do processo mundial. Além disso, como o Brasil vive um processo político novo, pela primeira vez com um governo de esquerda, os estrangeiros entendem que o FSB vai abordar essa mudança", diz Salete que, por outro lado, deixa claro: as entidades terão liberdade para discutir, mas o FSB não tem como objetivo avaliar o governo.
Salete ressalta ainda que do Fórum Social não saem, necessariamente, resultados práticos ou encaminhamentos. No entanto, o evento tem se constituído em um espaço importante para as ONGs se articularem e se organizarem. Também não existe uma posição única do Fórum, como, por exemplo, de repúdio à Alca ou a favor da negociação. "Não é papel do Fórum adotar uma opinião única, mas sim o de promover discussões diversificadas", afirma.
As entidades têm até o dia 15 de outubro para se inscreverem, o que pode ser feito pela Internet, no endereço www.fsb.org.br. Mais informações no mesmo site ou pelos telefones (31) 3224-5056 e (11) 3021-0670.
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