Você está aqui

Novos recursos no combate à Aids

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os estados escolhidos pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD) para intensificar o combate à Aids. Dezenove ONGs desses estados, que desenvolvem ações de prevenção às DST/Aids, serão beneficiadas com um programa elaborado pela FLD. A iniciativa pretende canalizar o apoio financeiro para essas ONGs e fortalecer os esforços para a prevenção à doença. Os recursos, no valor aproximado de R$ 450 mil, serão obtidos junto a agências de cooperação internacional e serão repassados às ONGs, pela FLD, ao longo de três anos. Este valor foi calculado com base no montante liberado pelo Governo Federal em cada estado para o combate à Aids e o percentual (10%) deste montante que é repassado às ONGs. O projeto ainda está em fase de definição e captação de recursos, mas a previsão é que o repasse dos recursos tenha início em março de 2004, ou talvez antes, para incluir a época do carnaval. "Vamos tentar adiantar os recursos para o carnaval", revela Luis Stephanou, assessor de projetos da FLD.

Segundo Stephanou, a escolha de organizações nesses dois estados se deve a dois motivos. Em primeiro lugar, essas são organizações com quem a FLD estabelece parceria ou contato há algum tempo, muitas conhecidas em encontros de ONGs/Aids. "Como nós conhecemos essas organizações e como elas estão mais próximas [a FLD tem sua sede no Rio Grande do Sul], temos mais condições de acompanhar o seu trabalho", explica o assessor. O outro motivo tem como base os números oficiais da epidemia. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, as regiões sul e sudeste do país e, principalmente, os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, têm a maior concentração dos casos de diagnóstico e notificação de HIV/Aids.

As taxas de incidência da doença por 100 mil habitantes nesses estados são muito superiores à média nacional: das 20 cidades brasileiras com maiores números de casos notificados, 11 delas estão localizadas nesses dois estados do sul. Além do aumento dos casos de usuários de drogas injetáveis, indicado por pesquisas, segundo Stephanou, estima-se que a notificação nesses dois estados seja mais bem desenvolvida, por isso eles se destacam entre os números oficiais. Isso quer dizer que o número de notificações nos outros estados pode não corresponder ao número real de pessoas infectadas. De qualquer forma, as estatísticas reforçam para a FLD a necessidade de fortalecer a educação e prevenção nas duas capitais escolhidas e nas cidades do interior. Foram selecionadas 12 instituições do Rio Grande do Sul e 7 de Santa Catarina.

O programa da FLD – cuja redação foi elaborada em conjunto com representantes das 19 ONGs - não exige nenhum projeto novo, metodologia ou foco diferente. A idéia é que as organizações possam, com os recursos do programa e os recursos que possuem, incrementar o trabalho que realizam. O aumento do número de pessoas atingidas pelos projetos de educação e prevenção deve ser o principal resultado do programa. Nos próximos três anos, o programa deverá possibilitar o atendimento de cerca de 100 mil pessoas. O monitoramento dos projetos será feito por profissionais da FLD em reuniões de avaliação e visitas de campo.

A maioria desses projetos desenvolve um trabalho de intervenção corpo-a-corpo nas comunidades e nos locais freqüentados por seus públicos-alvo. As informações sobre os cuidados básicos - como o uso da camisinha – são cada vez mais disseminadas entre a população, mas ainda são necessárias ações educativas que enfatizem a idéia de que a prevenção é o melhor remédio e, dessa forma, evitem o estouro de novos casos. "Ouvimos de pessoas que trabalham em ONGs que, de uns tempos para cá, parece haver um certo relaxamento na prevenção, como se existisse uma solução para a doença. Temos que mostrar que a epidemia não está controlada e que os remédios de hoje melhoram a qualidade de vida dos soropositivos, mas não curam a doença", diz o assessor.

Quando se trata de pessoas com grande multiplicidade de parceiros, como é o caso dos profissionais de sexo, os riscos de contaminação aumentam. "As prostitutas estão mais vulneráveis à Aids. A maioria usa preservativos com os clientes, mas ainda existe o risco de estourar a camisinha. Precisamos reforçar o trabalho de conscientização entre elas, que podem, também, repassar as informações aos seus clientes", ressalta Tina Taborda Rozira, coordenadora do Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP), de Porto Alegre, uma das instituições que contam com a parceria da FLD e que serão atendidas pelo programa. O NEP existe há 14 anos, com a missão de promover saúde e noções de direitos e cidadania para mulheres prostitutas.

Mulheres que trabalham na organização vão até os locais de prostituição e convidam as prostitutas para participarem de oficinas de saúde. O trabalho conta com o apoio das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde. O programa da FLD, segundo a coordenadora, vai possibilitar a ampliação do trabalho de prevenção do NEP para as cidades do interior tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina. "Iniciamos anteriormente um trabalho no interior, principalmente nas cidades portuárias e de fronteiras, mas tínhamos poucos recursos para continuar", diz. A estratégia do NEP para atingir essas regiões incluirá a busca de parcerias. "Vamos mapear grupos de prevenção às DST/Aids que atuam nessas regiões e que ainda não realizam trabalho junto a profissionais de sexo, mas estejam interessados nisso".

O trabalho de campo também será intensificado no caso do Movimento Livre, de Florianópolis, que desenvolve ações para promover direitos humanos e cidadania entre pessoas que sofrem de exclusão social e discriminação. A prevenção à Aids tem como foco os homossexuais e a abordagem é feita em lugares de freqüência gay, como boates e bares, para distribuição de preservativos, encaminhamento para serviços de saúde e para convidar as pessoas a participarem de reuniões e oficinas sobre cidadania e prevenção. Segundo Élvio Bornhausen, presidente do Movimento Livre, com os recursos do programa será possível reunir mais pessoas para o trabalho de campo. "Os recursos também nos ajudarão no pagamento de agentes de saúde e oficineiros, manutenção da sede e despesas gerais", diz o presidente.

Stephanou acredita que o programa vai colaborar com a sustentabilidade das ONGs e fortalecer a sua atuação nas suas comunidades e locais de atuação. Além disso, espera-se reduzir a velocidade da epidemia. "Nosso sonho é poder, daqui a três anos, comparar os boletins epidemológicos dessas regiões e constatar a diminuição dos casos da doença", planeja.

Mariana Loiola

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer