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Precisa-se de diversidade

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Um estrangeiro que chega à cidade turística do Rio de Janeiro, ao ser atendido em aeroportos, hotéis, lojas e restaurantes, pode esperar encontrar uma grande mistura de raças, certo? Errado. "No Brasil existe a mentalidade de que turista não quer ser atendido por negros. Isso é ignorância. Se você viajar para outros países, encontra uma situação bem diferente", comenta Edna Rodrigues, secretária-executiva do Movimento de Interferência Social pela Igualdade, Diversidade e Oportunidade no Mundo do Trabalho (MIS).

Infelizmente, a realidade da discriminação no mercado de trabalho vai além do setor turístico e atinge muitos outros grupos além dos negros. Por esse motivo, foi criado o Fórum Estadual de Combate à Discriminação no Mercado de Trabalho, lançado este mês, durante um seminário no Rio de Janeiro. O Fórum é uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e entidades da sociedade civil organizada, com o objetivo de combater todas as formas de desigualdade ou discriminação no mercado de trabalho e para promover a cultura da diversidade no ambiente profissional.

O Fórum surge para expandir o trabalho do Núcleo de Cidadania e Trabalho (NCT), da Delegacia Regional de Trabalho do Rio de Janeiro, criado em 1999 em decorrência do grande número de denúncias feitas à Organização Internacional de Trabalho (OIT). O NCT atua em parceria com organizações não-governamentais - entre elas, o MIS -, principalmente no apoio à inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A partir de denúncias, o NCT investiga as irregularidades trabalhistas nas empresas, procura conscientizar empregadores quanto à política de diversidade e, quando os casos não são resolvidos, são encaminhados para a fiscalização do Ministério do Trabalho ou o Ministério Público. "Nós lutamos pela igualdade no mercado de trabalho e queremos chamar a atenção da sociedade", afirma Aline Matheus Tavares, auditora fiscal do Trabalho do NCT.

As denúncias recebidas pelo NCT partem também de uma grande quantidade de pessoas negras, indivíduos com o vírus HIV, mulheres de baixa renda, pessoas acima de 40 anos e homossexuais, que se sentem discriminados na disputa por uma vaga ou no próprio ambiente de trabalho. Com a organização do Fórum, o NCT pretende fortalecer a articulação com as entidades de combate à discriminação por motivo de raça, gênero, idade, orientação sexual, entre outros, e dar atenção a todos os chamados "grupos vulneráveis", inclusive aqueles que não contam com uma legislação que lhes garanta cotas de vagas nas empresas, como é o caso das pessoas com deficiência. "O Ministério do Trabalho reconhece a discriminação, mas não oferece mecanismos, instrumentos legais, para combater o problema", diz Edna, do MIS. Além desta organização, mais de 50 instituições estão envolvidas no Fórum.

Edna, que atua há 15 anos em movimentos sociais, observa que também em comunidades de baixa renda existe discriminação. "Vejo que nas comunidades as mulheres e os negros têm muita dificuldade de encontrar emprego. Se um menino branco e outro negro procuram um emprego, por exemplo, é o branco que consegue", diz.

Diálogo e outras propostas

Uma das principais ações do Fórum será no sentido de sensibilizar as empresas para a diversidade de mão-de-obra e para o seu papel de oferecer oportunidade a todos, sem distinção. "O papel do Fórum é de diálogo para encontrar soluções para o desemprego", afirma Edna. Além do diálogo com as empresas, profissionais de recursos humanos e agências de emprego – que serão convidados para participar de palestras de conscientização –, outras estratégias para criação de oportunidades no mercado de trabalho serão discutidas em encontros regulares.

O caráter permanente do Fórum possibilitará sempre a adesão de novos parceiros, que poderão contribuir com propostas na tarefa de promover ações afirmativas de inclusão e investigar casos de discriminação no ambiente de trabalho. Uma das propostas que já existem é a criação de bancos de dados dos "grupos vulneráveis" para disponibilizar às empresas e encaminhar as pessoas para o mercado de trabalho. Outra é a criação de cursos de preparação para concursos, voltados para negros e pessoas de baixa renda. Também existe a idéia de criação de um selo de excelência da diversidade no trabalho para as empresas que se destacarem na ampliação de oportunidades de emprego. A primeira reunião do Fórum, que discutirá todas essas propostas, será no dia 18 de novembro.

Quem quiser entrar em contato com o Fórum Estadual de Combate à Discriminação no Mercado de Trabalho do Rio de Janeiro, pode escrever para nct.drtrj@mte.gov.br ou ligar para os telefones (21) 2532-0402 e (21) 2220-5018.

Mariana Loiola

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