Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor
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Elas foram às ruas, trouxeram questões implícitas no cotidiano à discussão pública e conquistaram novas relações na família e na vivência da sexualidade, espaços no mercado de trabalho e direitos que diminuem a desigualdade em relação aos homens. As integrantes do movimento feminista encontram agora a necessidade de rever a sua pauta no Brasil e, para isso, se preparam para o 14° Encontro Nacional Feminista (ENF), que acontecerá de 13 a 16 de novembro, pela primeira vez na região sul do país, no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Com o tema "Feminismo: um projeto político de vida", o evento pretende articular os diversos movimentos para debater os processos de transformação pelos quais o movimento feminista batalha.
O primeiro Encontro Nacional Feminista aconteceu em 1979. Inicialmente anual, passou a ocorrer a cada três anos a partir de 1985. O ENF se propõe a ser um lugar de intercâmbio, debate e articulação entre as feministas brasileiras. Na década de 80, principalmente, conquistou visibilidade para o movimento de mulheres, que se articulava para garantir direitos na constituinte, relata Zadi Zano, integrante da coordenação estadual do Rio Grande do Sul da Marcha Mundial de Mulheres. Nos anos 90, o movimento sofreu recuos. Para ela, é importante retomar essa visibilidade e capacidade de articulação e intervenção – a partir do reconhecimento de novas realidades e desafios – para renovar o feminismo no nosso país.
Zadi esclarece que o ENF não tem papel deliberativo, porém ressalta a importância de ser um espaço de trocas e articulação. Ela acredita que é esse aspecto do encontro que pode contribuir para fortalecer o movimento feminista no país, além de lhe conferir a visibilidade esperada.
A pauta das mulheres
Para debater os novos rumos do feminismo, no 14º ENF haverá oficinas, mesas-redondas e painéis, além de rodas de conversa, que as mulheres poderão construir durante evento.
Nas mesas, as participantes discutirão, entre outros assuntos, a conjuntura nacional e internacional a partir da visão das mulheres; novas e velhas formas de opressão cultural; o papel do movimento de mulheres na construção de políticas públicas; e a articulação do projeto feminista na sociedade. As questões de raça e etnia e de livre orientação sexual também estarão presentes entre os debates.
Os painéis retomarão um assunto polêmico na sociedade, bastante debatido pelo movimento feminista: a discriminalização do aborto e os avanços e a violência que ainda envolvem essa questão. Também estará no evento um assunto mais recente: as novas concepções de família, uma pauta prioritária nos movimentos de lésbicas. Neste painel, haverá relatos de experiências de casais de lésbicas que criam filhos e de outras formas de constituição de família.
Dentro do 14º ENF, as homossexuais femininas terão ainda um espaço maior para discutir especificamente as suas questões: o 1º Encontro da Liga Brasileira de Lésbicas. "A realização desse encontro representa uma maior aproximação dos movimentos de mulheres lésbicas do movimento feminista", afirma Roselaine Dias da Silva, militante da Liga Brasileira de Lésbicas da Região Sul. Um dos principais pontos de discussão para as homossexuais femininas será a legislação. "Temos que exigir que a reforma da previdência avalie as novas constituições de família, para que os companheiros homossexuais também possam ter direito a benefícios", diz.
Assim como no caso da legislação, para Roselaine, a discussão de todas as questões levadas ao 14º ENF deve servir como guia para o trabalho cotidiano dos movimentos feministas. Ela acredita que entre os maiores desafios das mulheres, hoje, está o de combater a discriminação velada, que se reflete, por exemplo, no mercado de trabalho, com a menor representação de mulheres em cargos de chefia e salários inferiores.
Diversidade e pluralidade
Zadi Zano diz que o feminismo tem diversas faces e pontos de conflito. Uma das propostas do encontro é justamente buscar os pontos em comum de percepções e visões dos vários grupos de mulheres. Para Roselaine, o movimento feminista se encaminha para a construção coletiva. "Nós temos referências individuais, o que não impede o movimento - mesmo com as suas divergências - de agregar diversos grupos para as discussões", acredita. Ao final do encontro, será elaborada uma carta de princípios da prática política feminista, que servirá como eixo de trabalho para os movimentos de mulheres.
Mulheres de 14 estados de todas as regiões do Brasil confirmaram presença no 14º ENF. Até a data do encontro, ainda podem se inscrever mulheres tanto de forma individual, quanto vinculadas a movimentos, ONGs ou partidos políticos. Segundo Zadi, todos os setores do movimento estarão representados. A diversidade e a pluralidade na participação são consideradas essenciais nesse 14º ENF. "Qualquer mulher que se identifique com os princípios feministas - mesmo que nunca tenha militado - pode participar. Tem espaço para desde as grandes teóricas até mulheres que estão começando a militar no seu bairro", diz. Só os homens ficam de fora, para que, assim, as mulheres se sintam mais à vontade para expressar as suas visões.
A inscrição para o 14º ENF custa R$ 100. O formulário de inscrição está disponível na página do encontro: www.14enf.com.br. Contatos podem ser feitos pelo endereço eletrônico 14enfeminista@uol.com.br ou pelo telefone (51) 3221-6159.
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